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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ouro de Tolo


É você olhar no espelho 
Se sentir um grandessíssimo idiota 
Saber que é humano, ridículo, limitado 
[...]
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial 
Que está contribuindo com sua parte 
Para nosso belo quadro social.

Na canção Ouro de Tolo, Raul Seixas crítica valores e conceitos referentes ao trabalho e a contribuição social que são normativos em nossa sociedade. Essa moral nos é ensinada nos primeiros anos da infância e direciona as escolhas que realizamos em nossa vida adulta. Sempre ouvimos que todo trabalho é digno, que devemos evitar a procrastinação, que o ócio deve ser evitado e que devemos ser produtivos, no entanto de onde vieram essas máximas e porque são tão pouco questionadas?
Auguste Comte, fundador do positivismo, foi uma das pessoas que contribuiu na formulação dessa linha de pensamento que nos insere na sociedade como peças e homogeneíza nossas vontades e sonhos. Ao criticar sua obra devemos ter em mente que Comte era um homem do seu tempo, o filosofo viveu em um período entre regimes despóticos, revoluções, crise de valores tradicionais. Como nos acostumados a estudar contribuições de outros filósofos que possuíam o pensamento vanguardista e revolucionário, nos esquecemos de duas coisas: a existência de pessoas que são resultado do lugar comum de seu momento histórico e de que nem toda contribuição e influencia é benéfica.

O positivismo defende a ideia de que o conhecimento pode ser sistematizado segundo os critérios adotados para as ciências exatas e que isso poderia ser aplicado aos fenômenos sociais, que deveriam ser reduzidos a leis gerais, com o objetivo de planejar a organização social e se obter o progresso. Todos esses conceitos apresentado por Comte são extremamente questionáveis, por exemplo, a ideia do progresso para uma sociedade mais evoluída, carrega consigo a existência de sociedades menos evoluídas, anulando a existência de sociedades diferentes, cuja diversidade deve ser respeitada. A ideia de criar leis que se apliquem aos fenômenos sociais ignora o ser humano como individuo e tenta criar regras que nunca se aplicarão na pratica, tendo em vista que as ações do homem são imprevisíveis. A ordem social e a contribuição de cada um para o todo podem ser analisadas como instrumentos de manutenção das relações de poder e opressão. Conhecendo a origem de muitas das máximas que regem nossas escolhas deveríamos questionar: se todo trabalho é digno, porque nenhuma criança é encorajada a ser empregada ou lixeiro? Devemos evitar o ócio mesmo sabendo que grandes contribuições e descobertas na Antiguidade foram realizadas graças a ele? Temos que ser produtivos pra quem? Pra que? Quando procrastinar ganhou uma conotação tão negativa? Será que contribuir para o nosso belo quadro social é uma coisa positiva ou apenas positivista?

Augusto César de Oliveira - 1º ano Direito - Noturno.

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