É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
[...]
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
[...]
E você ainda acredita que é
um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social.
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social.
Na canção Ouro de Tolo, Raul Seixas crítica valores e conceitos
referentes ao trabalho e a contribuição social que são normativos em nossa
sociedade. Essa moral nos é ensinada nos primeiros anos da infância e direciona
as escolhas que realizamos em nossa vida adulta. Sempre ouvimos que todo trabalho
é digno, que devemos evitar a procrastinação, que o ócio deve ser evitado e que
devemos ser produtivos, no entanto de onde vieram essas máximas e porque são
tão pouco questionadas?
Auguste Comte, fundador do positivismo, foi uma das pessoas que contribuiu
na formulação dessa linha de pensamento que nos insere na sociedade como peças
e homogeneíza nossas vontades e sonhos. Ao criticar sua obra devemos ter em
mente que Comte era um homem do seu tempo, o filosofo viveu em um período entre
regimes despóticos, revoluções, crise de valores tradicionais. Como nos acostumados
a estudar contribuições de outros filósofos que possuíam o pensamento
vanguardista e revolucionário, nos esquecemos de duas coisas: a existência de pessoas
que são resultado do lugar comum de seu momento histórico e de que nem toda
contribuição e influencia é benéfica.
O positivismo defende a ideia de que o
conhecimento pode ser sistematizado segundo os critérios adotados para as
ciências exatas e que isso poderia ser aplicado aos fenômenos sociais, que
deveriam ser reduzidos a leis gerais, com o objetivo de planejar a organização
social e se obter o progresso. Todos esses conceitos apresentado por Comte são
extremamente questionáveis, por exemplo, a ideia do progresso para uma
sociedade mais evoluída, carrega consigo a existência de sociedades menos evoluídas,
anulando a existência de sociedades diferentes, cuja diversidade deve ser
respeitada. A ideia de criar leis que se apliquem aos fenômenos sociais ignora
o ser humano como individuo e tenta criar regras que nunca se aplicarão na
pratica, tendo em vista que as ações do homem são imprevisíveis. A ordem social
e a contribuição de cada um para o todo podem ser analisadas como instrumentos
de manutenção das relações de poder e opressão. Conhecendo a origem de muitas
das máximas que regem nossas escolhas deveríamos questionar: se todo trabalho é
digno, porque nenhuma criança é encorajada a ser empregada ou lixeiro? Devemos
evitar o ócio mesmo sabendo que grandes contribuições e descobertas na Antiguidade
foram realizadas graças a ele? Temos que ser produtivos pra quem? Pra que? Quando
procrastinar ganhou uma conotação tão negativa? Será que contribuir para o
nosso belo quadro social é uma coisa positiva ou apenas positivista?
Augusto César de Oliveira - 1º ano Direito - Noturno.
Augusto César de Oliveira - 1º ano Direito - Noturno.
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