Comte histórias
Era uma vez, em uma realidade paralela, com órgãos com poder de rebelião...
O cérebro consola o coração. Ele está peculiarmente chateado hoje, e não se sabe ao certo o por quê. Só sabe que está farto de bater. E irredutível quanto ao que deseja fazer no lugar.
"Eu quero viajar pelo mundo", diz ele.
O cérebro tenta apelar para a razão. Diz que ele não pode fazer isso. Que dependem dele. Que, sem seus batimentos, todos falhariam em poucos segundos.
"Não ligo", afirma o coração.
Enquanto isso, no joelho...
A junta número 33 gira e se contorce. Resolveu que quer ser bailarina. Suas irmãs imploram para que pare. Reclamam que aperta. Reclamam que estão sendo deslocadas junto. Reclamam que precisam dela para funcionarem direito.
"Não ligo", diz a junta.
E partimos para a boca...
A língua anda enrolada. Resolveu que quer virar tapete. Nada entra no organismo, nada sai. Nada é ingerido, falado ou vomitado. Os dentes entram em estado de greve, mas não tem grande apoio: o céu da boca resolveu que precisa de estrelas - e isso toma todo seu tempo livre.
Temos, ainda, um rim querendo virar pedra.
Um estômago querendo virar borboletas.
Uma orelha querendo virar pulga.
E por ai vai.
E todos ficaram doentes.
Percebendo a situação, um outro cérebro próximo vem analisar. Conversa com todos os órgãos. E percebe uma insatisfação comum: crise de identidade. Todos os órgãos tem sérias duvidas quanto a suas origens (e, portanto, quanto ao que fazer consigo mesmos).
Pacientemente, o outro cérebro explica: não importa de onde vieram, desde que permaneçam. Explica que cada um faz parte de um todo (chamou o todo de organismo), e que este ficaria seriamente doente se não desempenhassem suas funções. Doente ao ponto de perecer.
A greve dos órgãos acabou quando eles compreenderam sua real importância.
E tudo deu certo naquele corpo.
Entretanto, o cérebro sabia que outra greve era iminente. Se não neste corpo, em outro. Portanto, fez um acordo com todos os outros cérebros: a partir do momento de sua existência, seria implicitamente imposto a todos os órgãos que desempenhassem suas devidas funções (ao que se chamou instinto). Por precaução.
E tudo mostrou-se funcionar pacífica e perfeitamente bem.
Sob a hierarquia imposta pelo cérebro
E resiliência dos demais
Todos viveram funcionais para sempre.
Fim
Mariana Luvizutti Coiado Martinez - 1º ano Direito Noturno
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