August Comte, filósofo considerado fundador do positivismo,
teve e ainda tem enorme influência na regência das sociedades. Valorizando a
ciência e a filosofia positiva, acreditava que o conhecimento teria três
estágios: primeiro, o teológico (caracterizado pelo sobrenatural), depois, o
metafísico (caracterizado pela abstração, ou seja, pela filosofia) e, por
último, o positivo (o conhecimento que repousa sobre fatos observados, aquele
que representaria o máximo amadurecimento humano).
Comte afirmava, e é daí que vem a analogia newtoniana a
partir de seu trabalho, que a sociedade seria regida por leis universais e
invariáveis, estabelecendo uma ordem necessária (como a existência da família,
da moral e do Estado) para o progresso, que, segundo a lente positivista, teria
como objetivo a a produção. Por isso, era grande a valorização, sustentada a
partir de uma moral, pelo trabalho, proporcionante de reconhecimento. Assim,
considerava ideal a existência de uma rígida hierarquia social, dentro da qual
cada indivíduo possuiria um papel definido para cada ação do corpo social. Só
assim a ordem seria mantida, sustentada pela desigualdade social e pela meritocracia,
um dos problemáticos do pensamento comtiano. A lógica meritocrática
desconsidera as diferenças das condições individuais, reconhecendo apenas
resultados finais e, desse modo, ajudando a perpetuar exclusões sociais e
faltas de oportunidades aos mais desfavorecidos, situação crítica que perdura
até os dias de hoje.
Outra possível crítica às ideias de Comte é sua visão acerca
da solidariedade, que, ao contrário do que defende a perspectiva cristã, não é a
de ajudar ao oprimido, mas sim a de ajudar a sociedade como um todo através do
progresso científico. Nesse ponto, é importante lembrar que nem sempre
tecnologias nos trazem apenas benefícios e ter cuidado com a fé cega na
ciência, pois o ser humano é, sempre, um ser social subjetivo e imprevisível e
porque nem sempre ela é exata para todas as situações e pode mostrar-se
superficial (como no uso de estatíticas como determinante de ações que podem
ser equivocadas, o que pode ser exemplificado hoje com a prisão injusta de negros
e pobres).
Além disso, a defesa de que saber é poder, ideia presente
desde Descartes e Bacon, é também um problema reconhecível. A partir dessa
afirmação, Comte reitera que devem apenas participar da política os melhores
educados, seres humanos “que pensam”, ou seja, segundo ele, os burgueses da
época. O povo deveria participar apenas do poder moral, cumprindo suas
obrigações e reproduzindo e incorporando a moral (pilar do positivismo de Comte
e da estrutura social, que ajuda na naturalização de problemáticos dentro da
sociedade), e, assim, mantendo a questionável e perturbadora ordem comteana.
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