Augusto
Comte, ao longo de sua vida, dedicou-se incessantemente à criação de uma
filosofia positiva, que pregava, através da construção de um conhecimento
científico baseado na observação empírica, entender as diversas relações entre
os elementos da natureza e da sociedade, para que ocorresse, assim, o avanço
pleno da humanidade. No entanto, Comte, embora possua sua importância na
comunidade científica e tenha exercido influência em diversas esferas da
sociedade, acaba por criar uma teoria repleta de contradições e justificativas
para a manutenção de uma ordem social, que servem as necessidades da classe
dominante.
Em sua
obra “Curso de Filosofia Positiva”, Comte discursa sobre a chamada Lei dos Três
Estados, que regeria a evolução de “todas as ciências e o espírito humano como
um todo”. Segundo ele, a humanidade passaria, primeiramente, pelo estágio
teológico, em que explicaria os fenômenos do universo através da vontade de
agentes sobrenaturais. Seguiria, então, para o estado metafísico, que serviria
como fase de transição para o último e perfeito estágio, o positivo. Neste, a
meta final seria justificar, através de um único fato geral, todos os fenômenos
observáveis. Mas qual seria a diferença entre o primeiro e o terceiro estágio,
se ambos depositam todos os “porquês” em uma única fonte? Não seria o estado
positivo nada mais que uma volta ao misticismo da teologia, sendo a única diferença
entre os dois o portador da tal verdade absoluta? Ao assumir que a ciência seja
o estado máximo de perfeição, mesmo que esta já tenha se contradito inúmeras
vezes, o positivismo adota uma postura de fé cega tanto quanto ocorre nas
religiões. Ademais, esse endeusamento da ciência, na sociedade tecnocrata
observada atualmente, impede o questionamento e a subversão, por parte das
classes sociais menos favorecidas, da ordem vigente.
Ordem
esta muito defendida pela dita filosofia. Comte profere que “o povo só pode
interessar-se essencialmente pelo uso efetivo do poder, onde quer que resida, e
não por sua conquista especial”. Logo, sugere que a população não deve almejar
uma participação na vida política de sua comunidade, permanecendo, portanto,
resignada e submissa às vontades da elite que a explora. O positivismo prega,
assim, a manutenção do status quo e a conformidade do proletariado ao seu papel
social designado, disfarçadas de “uma sadia apreciação das diversas posições
sociais e das necessidades correspondentes”.
Mas,
talvez, o maior exemplo do caráter tirânico e elitista da filosofia proposta
por Augusto Comte seja a passagem em que este sugere que a coexistência dos estágios teológico e metafísico sejam responsáveis por uma "anarquia intelectual", que deveria ser corrigida pelo pensamento positivo. Explicita-se, aqui, a intolerância de tal corrente filosófica com a pluralidade de pensamentos, que torna o ato de viver um sem-fim de possibilidades e oportunidades diferentes. Tira-se o que faz do homem agente de seu próprio destino em troca da homogeneização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário