Em seu artigo “Poderá o direito ser
emancipatório”, Boaventura de Sousa Santos discorre acerca da tensão entre
regulação e emancipação social, além de outros temas. Com o advento do Estado
liberal, essa tensão virou objeto do direito e a emancipação começou a ser
classificada em legal ou ilegal. Com essa dialética de regulação do Estado
liberal, a emancipação parou de ser o outro da regulação para ser o seu duplo.
Ou seja, a emancipação parou de ser uma alternativa radical para se tornar uma
forma de regulação.
Existem duas maneiras de emancipação social: a
parlamentar e a revolucionária. A primeira consiste em aumentar o alcance do
contrato social, mas sem nenhum tipo de rompimento com a estrutura liberal,
enquanto a segunda era uma confrontação ilegal visando uma ruptura
revolucionária, assim como na revolução russa. A estratégia parlamentar legal
pretendia alargar a cidadania política e social.
As ações afirmativas são uma forma de
emancipação por via parlamentar legal, um exemplo são as cotas por cunho racial
nas universidades. No entanto, alguns setores da sociedade não concordam com
esse tipo de emancipação. O pedido de inconstitucionalidade das cotas raciais
na UNB, ajuizado pelo DEM, demonstra isso.
Ao discorrer sobre sociedade civil incivil e
fascismo social, Boaventura consegue explicar a intolerância de alguns setores
com as cotas raciais. Os negros, em sua grande maioria, fazem parte da
sociedade civil que é o círculo da sociedade que não possuem direitos nem
expectativas estabilizadas. As ações afirmativas em geral, não só as cotas,
servem para inserir algum grupo excluído na sociedade civil. No entanto, o
fascismo social age nesse círculo, tentando impedir essa inclusão. O fascismo
social não é produzido pelo Estado, mas sim pelas pessoas e ele banaliza a
democracia. O fascismo do apartheid social, por exemplo, tenta segregar os
excluídos em zonas “selvagens” da cidade e quando esses excluídos começam a
frequentar os mesmos espaços dos incluídos no contrato social, como as
universidades, gera uma revolta.
Em suma, as cotas são uma forma de emancipação
social que iriam retirar muitos negros da sociedade civil incivil, no entanto
alguns setores da sociedade não compactuam com essa inclusão e tentam extinguir
essa prática.
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