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domingo, 8 de novembro de 2015

Subam na árvore!

Boaventura no início de sua obra afirma que “vivemos um período em que enfrentamos problemas modernos para os quais não há soluções modernas.”; e isto se deve pelo fato de que na maioria das vezes as soluções não são encontradas porque não entendemos o que está acontecendo, assim, buscamos soluções ultrapassadas. E isso pode se relacionar com a atual questão implementação das cotas raciais nas universidades públicas. Onde o problema, como muitas vezes acontece dentro do Direito, acaba tendo a discussão dentro do judiciário, que se vê obrigado a ter uma perspectiva de ação. Com isso, surge a grande questão da discussão de Boaventura pode o Direito ser emancipatório¿
Os problemas do nosso século são filhos dos acontecimentos das revoluções que se sucederam a partir do século XIX, e que sobre isso, cabe ressaltar que ocorreu a confrontação entre  a regulação social e a emancipação social. Isto porque na medida em que se tenta impor algo, a reação contrária reage, a dinâmica daquele que não são comtemplados dentro do Estado Liberal, ou seja dentro da participação, e por isso tem que lutam para uma emancipação social. Tendo isso em mente, as ações afirmativas, sendo uma delas as cotas raciais, buscam medidas para reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de desigualdade que caracteriza as relações ético-raciais e sociais em nosso país. Assim, há a tentativa de sair dessa situação de não participação por meio da emancipação. Para isso, se prevê uma metodologia de seleção diferenciada que possa perfeitamente levar em consideração critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a assegurar que a comunidade acadêmica e a própria sociedade sejam beneficiados pelo pluralismo de ideais, um dos fundamentos do Estado brasileiro, conforme dispõe a Constituição.
Diante do pensamento de Boaventura, com a implantação das cotas raciais, o direito, passaria a ser visto a partir da possibilidade de se transformar em um instrumento de mudança, e com isso tentara-se superar a forma de modo que aqueles que não foram contemplados sejam pela lei, dentro do contrato social. Deste modo, como ressalta Lewandosky, não estaria contrariando, mas ao contrário estaria prestigiando o princípio da igualdade material, previsto no art. 5 da Constituição. Isto porque, o Estado lança mão de políticas de cunho universalistas para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação puramente formal do princípio de igualdade. Além disso, há ainda o argumento da Débora Drupat, em que ela afirma que a Constituição de 88 se insere no contexto das Constituições sociais, assim é obrigação do Estado deve ter a igualdade como um objetivo a ser perseguido por meio de ações ou políticas públicas.
O sistema de cotas tem papel fundamental na democratização do ensino superior, pois hoje os negros correspondem a um percentual muito pequeno nas universidades de todo o país. Assim, como diz Boaventura, para que o Direito seja emancipatório precisamos que ele contemple, reconheça e proteja o carácter plural da sociedade. O Direito necessita dessa mudança, pois segundo o autor, com o fortalecimento dos Estados Nacionais mediante as condições de acumulação as classes sociais inseridas nessa dinâmica lutarão pela participação, pelo direito. Então, a legislação, atendendo a isto, passa a garantir um maior número de direito sociais sob controle do próprio Estado.
Outra ideia importante de Boaventura para entendermos a difícil questão das cotas, é o fascismo social, que vem da permanente sensação insegurança e com isso enxerga-se aqueles que não se mostram aptos como pessoas que devem ser excluídas. Por meio do vestibular isto fica muito evidente, pois aqueles que não conseguiriam ser aprovados por meio do sistema universal, não devem ter o mérito de ingressar na faculdade. Isto está tão presente na sociedade que mesmo dentro da primeira universidade a adotar o sistema de cotas, existem alunos que ridicularizam o sistema, como é o exemplo do blogger do “Acid Black Nerd” que diz que “depois de quatro anos estudando, fui a secretaria pegar meu diploma e vi um folheto panfletário, com um gráfico indicando que os alunos oriundos do sistema de cotas tinham um desempenho melhor. Como eu estudei naquela universidade, apenas dei uma risada irônica”. Entretanto, há inúmeros fatos que mostram o contrário. Além disso, devemos pensar até que ponto é realmente necessário que uma pessoa saiba todo o conteúdo que o vestibular abrange.  Porém, isso é cômodo para o sistema racional do liberalismo, a classificação das pessoas, por meio do mérito, onde parece que a única questão em jogo é o esforço pessoal quando, na verdade mascara todo um problema social existente por traz, a trajetória que cada aluno percorre é totalmente diferente, e somente pelo fato de ele não saber responder sobre uma equação trigonométrica não o desqualifica de entrar no ambiente universitário.
A verdade é que a maioria da sociedade acredita a Justiça será alcançado se tratarmos os desiguais igualmente e esperar que as diferenças se resolvam ao longo do tempo. O que é intrigante sobre esse pensamento é o fato de vivermos em um país tão plural e diferente, que parece loucura a quantidade de pessoas que pensam assim. Ter como base para o ingresso do ensino superior a tão valorizada meritocracia seria vangloriar o individualismo e ajudar a aumentar a intolerância social.


Bibliografia:

Gabriela Gandelman Torina 
1 ano Direito Noturno

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