Escrito em 1848, com a colaboração de
Friedrich Engels, o “Manifesto do Partido Comunista” apresenta uma discussão
além de seu tempo. Antecipando o que seria sua preocupação fundamental – estudo
e crítica da economia capitalista – a análise feita por Marx e Engels acerca do
capitalismo pode ser atualizada para a contemporaneidade. As condições sobre as
quais eles refletem, bem como as situações retratadas na obra, perpetuaram a
visão de mundo. Como exemplo das mudanças exigidas para a manutenção do quadro
de ideais dominantes descrito, o direito tornou-se elemento de legitimidade da
burguesia, encontrando a necessidade de uma transformação a partir da
otimização do processo de acumulação.
Além do retrato atual, o Manifesto
contribuiu, com efeito, para a elaboração de outros textos exaltadores de
multidões, trabalho e modernidade. A repercussão encontrou caminho até mesmo no
Brasil: em 1928, Oswald de Andrade escreve o “Manifesto Antropófago”, uma
pregação utópica – sociedade tecnocratizada, ócio, idade de ouro.
A obra de Marx e Engels, logo em seu início, é categórica ao
retratar a história como uma luta de classes, opondo sempre opressores e
oprimidos. Além da conotação política que tal afirmação possui – uma vez que é
afirmado, também, que “toda luta de classe é uma luta política” – há um viés
científico a ser debatido. Os autores não se utilizam de uma alegoria ao
constatarem a dinâmica de confrontamentos: em todas as sociedades existe um
antagonismo que dinamiza a realidade social; é justamente nele que a consciência
e percepção da realidade devem se encontrar. A época da burguesia fez somente
simplificar tal oposição de classes, dividindo, cada vez mais, a sociedade em
dois grandes blocos inimigos: burguesia e proletariado.
A burguesia emerge da superação de uma
sociedade anterior, com um projeto diferente de qualquer outro na história.
Demonstrou, pela primeira vez, a capacidade real da atividade do homem.
Revolucionou o conjunto de relações sociais à medida que revolucionava
permanentemente os instrumentos de produção. Afincou seus alicerces na
realidade material, voltando a racionalidade para a produção. Porém, acima de
tudo, produziu seus próprios coveiros: os operários modernos, os proletários –
sua luta contra a burguesia começa desde o nascimento, sendo a única classe
realmente revolucionária. A sociedade contemporânea é, justamente, a expressão
desse conflito entre burguesia e operariado.
O Manifesto não só demonstra a existência de
classes unida a determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção, como
também, versa que tal combate conduziria, então, à ditadura revolucionária do
proletariado. Esta ditadura seria a primeira fase – fase necessária – para a
superação da hegemonia capitalista burguesa e para abolição de todas as
classes. Seria o período de transição para uma sociedade sem classes. A obra
reflete o desenvolvimento assombroso da classe burguesa e sua luta com o
proletariado emergente, que se originou e cresceu em seu próprio bojo.
Isabelle Elias Franco de Almeida
1˚ ano, direito (noturno) – aula 08
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