O
caso do Pinheirinho: uma desconstrução positivista
A
desocupação de um terreno abandonado no município de São José dos Campos,
comumente denominado Pinheirinho, foi um dos grandes assuntos políticos de
2012. A sociedade civil assistiu estarrecida a violência e repressão empregada
pela polícia militar, que utilizou armamentos pesados e uma tropa de choque
para expulsar famílias de seus redutos estabelecidos desde 2004. O caso, além
de ter se tornado um símbolo da repressão militar, também alude a assuntos sociológicos
e jurídicos, que serão analisados nesse texto sob o prisma positivista.
A
filosofia positiva criada por Augusto Comte tem como objetivo criar uma vertente
do pensamento que consiga analisar os fatos sociais de forma concreta e
extremamente racional, nesse sentido cria-se uma espécie de física social que se
afasta das concepções quiméricas da filosofia clássica e da metafísica. Assim, Comte
cria uma filosofia político-social que prima pela manutenção da ordem e, ao
mesmo tempo, anuncia uma profilaxia social que resultaria num progresso contínuo.
Para Comte as classes sociais que detivessem o domínio intelectual deveriam
conduzir a sociedade, garantindo, contudo, as necessidades das classes sociais
marginalizadas.
Dessa
forma, o caso do Pinheirinho torna-se um exemplo clássico do pensamento
positivista. Afinal, em nome da manutenção da ordem e respeito às leis
jurídicas, famílias foram expulsas de seus lares, pois ocupavam um território
que não lhes pertencia. Mas estaria o Estado completamente errado? Seria conveniente
autorizar a ocupação do Pinheirinho, sendo que nossa Constituição garante o
direito à propriedade privada?
Ao
seguir a lógica do positivismo de Comte chegamos rapidamente às respostas das questões
supracitadas, pois se as leis determinam o direito à propriedade privada e legitima
a ação de reintegração de posse, então o caso foi juridicamente legal e
indispensável para a manutenção da ordem. Entretanto, nesse caso outras
vertentes de pensamento foram ouvidas e, felizmente, houve um questionamento
sobre os métodos violentos utilizados pela polícia e sobre o destino das
famílias que ficaram desabrigadas.
O
Brasil como um Estado Democrático de Direito deve primar pelo cumprimento de
suas leis positivadas e pela manutenção de sua ordem. Mas, em contra partida,
deve garantir a dignidade humana de seus cidadãos. Nesse sentido, nós, cidadãos
brasileiros, devemos clamar por educação, moradia, igualdade, dignidade e os
nossos tantos outros direitos fundamentais.
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