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segunda-feira, 4 de julho de 2022

Análise compreensivista do sujeito bolsonarista

   Para Weber, deve-se analisar a fundo a ação social, de modo a assimilar o seu sentido e seus efeitos. O intelectual diz: “Uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la casualmente em seu curso e em seus efeitos”. Também é interessante compreender os valores por trás dos atos. Ademais, o tipo ideal é a “construção de uma ação orientada pelo fim de maneira estritamente racional”. É a idealização dos motivos e do curso de uma atividade, através do racionalismo, que pode ser refutada pela irracionalidade. Trata-se da chance e da tendência, o “objetivamente possível”. Para obter a verdade, de acordo com Weber, os fatos têm de ser comparados ao tipo ideal. Pode-se adicionar que a compreensão é feita de conexões de sentido e a explicação é o motivo de acordo com a finalidade. Por último, poder é a imposição da vontade em relações sociais, sendo que a legitimação é a naturalização da dominação, tornando-a aceitável.

Pode-se construir o tipo ideal do bolsonarista, com o intento de elucidar os apontamentos de Weber quanto à análise compreensiva, ao captar os valores, motivações e fins do sujeito apoiador de Bolsonaro. O bolsonarista, em sua essência valorativa, advém de base religiosa fundamentalista, costumeiramente a evangélica, através da qual sustenta ulterior repúdio e reprovação à diversidade, à nova mentalidade social, ao progressismo, ao que declara “subversivo”. Exemplificação deste valor e seus efeitos dentre os seguidores de Bolsonaro seria a forte rejeição e ataque ao aborto da menina de 10 anos de Santa Catarina que havia sido estuprada por familiar, ao ponto de negá-la direito já previsto em lei, em decorrência de preceitos irrefutáveis de fé impostos sobre os não adeptos. Observa-se também o ódio às minorias, a exclusão e diminuição das mulheres, o valor dado à violência, à sobrevivência do “mais forte” em uma espécie de “lei da selva”. Isso, na realidade, remete ao machismo, a uma ideologia do homem forte e inflexível, selvagem e superior, dominador e agressivo, o qual discrimina e detesta aqueles que não são como os seus. O ser misógino, então, maltrata os demais, os subordinados e os subalternizados, conforme bem entenda, se vê com a liberdade para infringir os direitos do outro. Demonstração disso seria o caso de Pedro Guimarães, ex-Presidente da Caixa Econômica Federal, demitido por assédio sexual e moral a um conjunto de mulheres servidoras do Banco. Guimarães repetidamente abusou dos limites existentes em um espaço de trabalho, utilizando-se de sua função de Presidente para forçar envolvimento sexual com funcionárias, além de ter também abusado moral e psicologicamente de seus subordinados na Caixa, insultando-os com frequência. O que se afirma é o eixo axiológico machista por trás de tal conduta e comum em bolsonaristas. Não é por nenhum motivo que a faixa populacional de maior rejeição a Bolsonaro é a feminina. Em conclusão, não se pretende constatar pontos sempre presentes em todo o apoio bolsonarista, considerando que há certa pluralidade neste, mas fatores comuns e típicos ao segmento de apoio ao Presidente, a fim de melhor compreendê-lo.

Alexandra Valle - Direito Matutino


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