Max Weber, sociólogo alemão,
foi imprescindível ao materializar a compreensão da sociologia, a qual se
difere de uma ciência nomológica. Nesse viés, a concepção sociológica está
vinculada a uma percepção da realidade factual, tornando-se objeto de
aspiração. Logo, a compreensão sociológica corresponde a uma atribuição de uma
explicação de cunho interpretativo que circunda a realidade, divergindo da
nomologia.
Ademais, Max Weber consolida a
perspectiva de ação social, tendo em vista que a condução da vida,
protagonizada pelos indivíduos que compõem uma conjuntura coletiva, corresponde
a uma integração de valores que dependem de uma construção histórica e
cultural. Outrossim, o somatório de duas ações sociais revela uma complexa
relação social consolidada por meio de uma competição anômica por vontades.
Do mesmo modo, o sociólogo
analisa as matrizes do tipo ideal, conceito que está atrelado à racionalização
do real e à noção do objetivamente possível. Logo, o tipo ideal de Weber representa
uma referência que pleiteia a compreensão da realidade factual, seja ela um
estereótipo idealizado ou um retrato real. Além disso, é notório ressaltar que
os valores inerentes à ação social permeiam a gênese e a criação de um tipo
ideal, visto que a construção cultural corresponde a um artifício basilar para
a formulação dos valores supracitados.
Weber também analisa as
matrizes teóricas de uma relação de dominação, tendo o exercício do poder como
recurso intrínseco. Sendo assim, o sociólogo caracteriza o poder como a
imposição da própria vontade em uma relação social, anulando e omitindo a manifestação
da vontade de terceiros reprimidos socialmente. Sob essa ótica, a definição de
dominação equivale a um relacionamento de obediência e de coerção, tendo, como
consequência, a consolidação da legitimidade, aspecto que corrobora a aceitação
da dominação, seja por motivos racionais ou por motivos atrelado ao carisma,
compondo a concretização de um cabresto social. Portanto, a racionalização do
poder e da dominação é materializada por meio do direito, o qual atribui uma
expectativa de um tipo ideal vinculado a uma conduta desejada.
Ambientada no cenário
brasileiro, a Ditadura de 1964 corresponde a um golpe executado pelos militares
que não só infringiu a luta democrática, mas também transgrediu os direitos
humanos devido às brutais torturas e aos impiedosos homicídios. O período
ditatorial brasileiro é demarcado pela ininterrupta censura, violando a
liberdade de expressão dos civis e silenciando todos os indivíduos que se
opunham ao comportamento coercitivo dos ditadores e do exército. Nesse viés,
como alternativa resolutiva vinculada à censura dos revolucionários, os militares
impunham sua própria vontade por meio da exprobração inerente aos atos da vida
civil, concretizando, no imaginário individual, uma admissão desse estado
autoritário, e por meio da censura física, tendo em vista que a tortura, bem
como o desaparecimento dos manifestantes, eram medidas que firmavam o poder dos
militares e silenciavam os revolucionários.
Desse modo, a concepção
weberiana de poder é elucidada pelo comportamento coercitivo do exército
ditatorial, alicerçando a dominação representada pelos opressivos militares e
consolidando uma relação de obediência protagonizada pelos oprimidos civis.
Cabe salientar que a questão da legitimidade, conceito proposto por Weber,
estava explícita em situações vinculadas à aceitação social da postura dominatória
dos militares, visto que a ausência de contestação ou oposição à Ditadura
legitimava o poder e a dominação dos ditadores. Entretanto, os guerrilheiros
que desprezavam o opressivo comportamento militar são antagônicos à perspectiva
de legitimidade weberiana, preterindo a dominação e renunciando a censura. É
imprescindível ressaltar que os revolucionários que contestavam o cunho
coercitivo ditatorial eram as principais vítimas desse sistema cruel e nefasto,
sendo silenciados por meio da tortura e dos homicídios.
Portanto, a título de
exemplificação, cabe reiterar a obra musical de Chico Buarque intitulada como
“Cálice”. Sob essa perspectiva, o autor elucida, fazendo uso de metáforas
ambíguas, como o regime autoritário é prepotente sobre os civis, tornando-os
vítimas silenciadas pela dominação coercitiva executada pelos militares. Logo,
no trecho “beber dessa bebida amarga” corresponde às dificuldades de viver
nesse cenário autoritário e permanecer inerte nessa situação, sendo
constantemente calado pelo exército. Em suma, beber do cálice de Chico Buarque
correspondia ao ato de beber e usufruir do sangue dos indivíduos que lutavam
contra a ditadura.
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai, afasta de mim esse cálice, pai
Afasta de mim esse cálice, pai
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
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