David Émile
Durkheim, sociólogo francês, desenvolveu uma teoria sociológica baseada no
estudo de fatos sociais. Esse fenômeno presente em toda organização social
explicava os maiores exemplos de coerção evidentes em qualquer época. O fato
social seria algo que partiria da sociedade como um todo afetando o indivíduo
forçosamente. Ou seja, não seria a junção de atos corriqueiros na vida de cada
cidadão que quando unidos formariam uma identidade coletiva, mas sim algo que antecede
a própria existência do indivíduo na sociedade; e quando o mesmo é nela
inserido, fica a mercê do poder extremamente coercitivo do fato social.
Durkheim
explicita que as crianças sofrem com a coação do fato social quando são
incentivadas a comerem e dormirem em horários regulares, por exemplo. Ele
entende que toda e qualquer forma de educação aplicada até hoje tem por fundamento
impor àqueles aos quais ela se destina uma maneira de agir, pensar e sentir
dependendo da situação vivenciada. A sociedade cria um mecanismo aplicador de
fatos sociais que tem como único fim o esculpimento do indivíduo para que ele
não fira a ordem social vigente. Falta o incentivo à liberdade de pensar e de
agir, e a sociedade assim acaba por formar clones que sentem, pensam e agem de
maneira igual.
No Brasil, a
coerção no processo educativo é evidente e data de séculos atrás. Um dos
exemplos mais notórios foi o que aconteceu na Ditadura Militar, na qual os
professores e alunos eram duramente fiscalizados e oprimidos caso não fosse
disseminada e absorvida a ideia de uma sociedade e governo justos e prósperos.
Ensinava-se a pensar da maneira que o governo entendia que fosse melhor para a
manutenção de seu próprio poder, da mesma forma que o indivíduo que se submetia
a esse aprendizado se sentia coagido a sentir-se mal caso contrariasse qualquer
pensamento ou ideologia a ele aplicados.
O mais
recente caso que busca a coerção ainda maior no regime de ensino é o projeto de
lei “Escola sem partido”, no qual o governo busca a institucionalização de um
modelo de ensino ainda mais opressivo e conservador. Segundo o projeto de lei,
os professores deveriam ensinar seus conteúdos abdicando de toda e qualquer
ideologia, ou expondo todos os lados possíveis de interpretação para um mesmo evento.
Mesmo parecendo ser a oportunidade ideal para que não sejam impostos fatos
sociais em escolas e que os jovens não sejam mais moldados de forma a
simplesmente compor a massa social homogênea, o projeto tem um fundamento
completamente conservador. Não é possível que não se apliquem ideologias em
nenhum processo educativo, a própria escolha de não se aplicar uma ideologia é
uma ideologia. Assim sendo, nesse contexto, prevaleceria aquela mais evidente
na sociedade que, no caso do Brasil, continua a ser a da extrema direita
conservadora. A única maneira, como Durkheim mesmo afirma, de não serem
aplicados fatos sociais na educação é através da liberdade disponibilizada àqueles
que aprendem. Mas como é visto, o Brasil não disponibiliza desses meios
liberais, o que torna o avanço de um projeto como esse extremamente preocupante
para a educação nacional e consequente futuro da sociedade coercitiva vigente
que se formará.
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