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terça-feira, 8 de abril de 2014

PONTO DE MUTAÇÃO: a crise da ciência e a resposta holística.

“Como causas de sua confusão ou renúncia os intelectuais citaram "novas circunstâncias" ou "o curso dos acontecimentos" — Vietnam, Watergate e a persistência de favelas, pobreza e criminalidade. Nenhum deles, entretanto, identificou o verdadeiro problema subjacente à nossa crise de idéias: o fato de a maioria dos intelectuais que constituem o mundo acadêmico subscrever percepções estreitas da realidade, as quais são inadequadas para enfrentar os principais problemas de nosso tempo. Esses problemas, como veremos em detalhe, são sistêmicos, o que significa que estão intimamente interligados e são interdependentes. Não podem ser entendidos no âmbito da metodologia fragmentada que é característica de nossas disciplinas acadêmicas e de nossos organismos governamentais.” – Fritjot Capra

            A realidade é transcendente, dinâmica, sujeita às variações das mais determinadas ordens. Essa é a ideia que perpassa o filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro de mesmo nome, do físico Fritjot Capra. No diálogo entre um político, um poeta, e uma cientista, todos em crise com suas existências, está a essência do livro de Capra, uma crítica ao pensamento fragmentado e a busca de um novo paradigma para a ciência.

PORQUE A CIÊNCIA ATÉ ENTÃO PRATICADA FALHOU? Capra x Descartes/Bacon.

            Até agora, no curso de sociologia, vimos basicamente dois autores: Descartes e Bacon. Os dois, cada qual a sua maneira, mas também cada qual complementando e percorrendo o pensamento do outro, fundamentaram a ideia de ciência que temos hoje: empírica, fragmentada, que olha a parte para compreender o todo. Mas porque então, Capra entende que essa ciência bem fundamentada e operante falhou?
            Bacon dizia que o propósito essencial da ciência é estabelecer o domínio do homem sobre a natureza. Entretanto, Capra afirma que esse domínio está sendo danoso. Percebamos que ao olhar para cada área científica separadamente, veremos que o progresso é inegável. Na medicina temos mais formas de salvar vidas, na engenharia, maneiras melhores e mais viáveis de construir prédios, navios, aviões, cada vez mais seguros, na química temos medicamentos melhores, produtos químicos mais eficientes e etc. Entretanto, se olharmos o todo, como propõe Capra, veremos que o sistema que compõe os indivíduos e o planeta vive uma crise grave. O progresso segmentado nos impediu de ter uma visão holística da realidade. São sinais da crise, para Capra, a miséria material de parte significativa da família humana, a crise de ideias na academia e especialmente a deterioração do meio ambiente e a crise nuclear do fim dos anos 70 e começo dos anos 80 (período em que escreve), com a iminente, porém nunca ocorrida, guerra nuclear entre URSS e EUA.

UM NOVO PARADIGMA: novas reflexões e o diálogo alegórico do filme “Ponto de Mutação”.

            Para resolver essa crise sistêmica, Capra propõe uma solução também sistêmica. É o que ele chama de “Concepção sistêmica da vida”, a ideia de que é possível ver a realidade de uma maneira distinta, corroer as velhas bases da ciência e iniciar uma nova forma de analisar o mundo, que abarque o conhecimento intuitivo e que não separe mais a matéria do espírito (antítese marxista-hegeliana). Capra propõe, de maneira bastante ambiciosa, o fim do pensamento linear, e o nascimento de uma nova forma de pensar, que não esteja amarrada ao método cartesiano.
            Tendo isso em mente, no filme “Ponto de Mutação”, observamos que os três personagens representam três alegorias. A cientista representa a própria ciência em crise, o poeta representa a subjetividade humana, também em crise e aparentemente sem espaço, e o político representa a identidade política humana. Ele é de certa forma aquele que media o debate, mas é também a alegoria do homem político, o homem social. A crise que os três vivem em suas vidas representa a crise catastrófica vista por Capra em seu livro. Nesse sentido, o diálogo que eles constroem, é a própria resposta sistêmica proposta por Capra. Principalmente na personagem que vive a Cientista, vemos uma profunda crítica ao método científico e a vontade de ver triunfar uma visão orgânica das coisas: tudo está ligado e tudo se renova.

A QUESTÃO QUE PERMANECE: E as ciências humanas? Qual a relação entre o ponto de mutação e o pensamento clássico?

            Sobre as ideias postas no filme e no livro, gostaria de lançar duas questões para a reflexão daquele que lê esse texto:

Na crítica ao empirismo, temos que achar o lugar das ciências humanas. Essas ciências nunca abraçaram por definitivo o método empírico e já apresentam, de certa forma, uma visão mais holística do mundo. São mais interdisciplinares, muito mais dinâmicas e menos fragmentadas que as ciências “naturais”, e vivem em constante crise com seus métodos. Portanto, qual o ponto de mutação das ciências humanas?

O que Capra propõe, em linhas muito grosseiras, é um pensamento holístico universal. Mas será que isso é possível, ou isso significaria o fim da ciência como conhecemos e uma volta ao pensamento clássico? Nesse sentido, as ideias de Capra se relacionam diretamente com a forma antiga de pensar as coisas ou não?

Victor Abdala – 1º ano de Direito (NOTURNO)

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