A racionalização do mundo, ou melhor, de todos
os aspectos da vida do homem, das relações sociais, do modo de pensar e de
agir, estabeleceu padrões para todas
as áreas, atuações, condutas e expectativas de forma generalizada. Não se
ignora que ela foi e é necessária, não só para a organização do conhecimento e
sua produção, mas também para a regulação da vida em sociedade. A
racionalização veio e veio para ficar, tal como Weber ilustra em seu discurso
sobre o contrato.
A análise histórica mostra o caráter atemporal
do contrato, isto é do poder que ele determina. Mas para que esse objeto jurídico
histórico se consolida, acompanhando a racionalização e se guiando por ela, tudo
o que era considerado irracional teve
de ser “abandonado” - ou ignorado. Essa mudança de postura provocou o choque
entre “o novo e o velho”, entre o explicável e o mito, a crença, o irracional,
o absurdo, o valor e o explicável...
A impressão que história passa é que durante
certo período o homem demorou a se adaptar a essa nova realidade, fato que há
poucos séculos se deu com muito sucesso. Até mesmo a arte, a produção mais
subjetiva da alma humana, foi racionalizada e a música, a expressão, as
narrativas são produtos efêmeros do mercado. Ocorre que, apesar de a tecnologia
e outros avanços dos tempos modernos serem bem aventurados, o desencantamento
presente nas pessoas é marcante.
O desencantamento
do mundo, com relação a tudo e a todos, é consequência da alta
racionalização supracitada. Poucos ensinam valores morais e éticos que,
ironicamente, todos reclamam a falta. Poucos se dedicam o tempo e a responsabilidade
necessários para a formação dos indivíduos. Dessas infelizes constatações
saltam as explicações das atrocidades
que uns cometem com outros ou contra si mesmos...
Casa-se sem ter o intuito de crescer junto,
ou de guiar o crescimento de outros; se é amigo para não ficar sozinho, não
havendo o menor interesse em saber quem realmente é o sujeito ou quem são
aqueles que também fazem parte da vida dele; tem-se nas figuras familiares
provedores perpétuos, no trabalho uma obrigação ou fonte de enriquecimento...
Essas
condutas e tantas outras não estão distante dos indivíduos no dia-a-dia, recolhidas
nos filmes, seriados ou novelas; mas estão por toda parte, basta boa vontade e
lucidez para enxergá-las. Sim, são dolorosas para muitos, para os desiludidos e
desencantados com a vida... o reconforto, porém, pode ser encontrado ainda. Em
algumas obras literárias, alguns filmes, alguns depoimentos, em algumas pessoas
e produções que se preocupam com conteúdo caro àqueles que se dedicam ao
exercício do pensamento livre de amarras e tendências.
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