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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A grande casa de banhos

     O filme “A viagem de Chihiro” do brilhante Hayao Miyazaki, retrata a trajetória de uma garota (Chihiro) que adentra em uma espécie de cidade em que vivem deuses e espíritos que, para recuperar os pais e voltar a sua vida normal, precisa se adequar às normas dessa nova realidade. A película está repleta de metáforas da sociedade atual em seus diversos aspectos, podendo-se, inclusive, traçar diversas relações com o pensamento weberiano.
     Uma das características mais marcantes do filme é “a casa de banhos”: clara referência à sociedade e ao sistema econômico atual. A casa de banhos é, notadamente, movida pelo capital e pelo lucro; os trabalhadores têm que ser rápidos para atender todos os clientes; a jornada de trabalho é extensa e exaustiva e nota-se, ainda, uma forte burocratização de todas as funções e procedimentos lá existentes (é necessária a realização de uma série de etapas, até mesmo para os procedimentos mais simples, como, por exemplo, para se adquirir a essência de banho desejada).
     Também é extremamente marcante como Hayao ilustra o conceito de “contrato”. Para poder trabalhar na casa de banhos, Chihiro precisa assinar um contrato mágico. Tal contrato faz uma genial metáfora do contrato racional explicado por Weber, pois a magia presente neste contrato, que impede que o mesmo seja violado, é uma clara referencia à lei fria e rígida, ou seja, à norma jurídica, que é o meio rígido e racional para a garantia das relações modernas.
     Nota-se, assim, o complexo funcionamento da realidade atual, que parece, como mostram a animação e Weber, assumir gradativamente aspectos fortemente racionais e sistemáticos. Realidade que vem buscando, por meio de artifícios como a burocratização e o contrato jurídico, adequar aspectos culturais e econômicos a essa turbulenta sociedade; ou melhor, a essa grande casa de banhos.

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