A grande casa de banhos
O filme “A viagem de Chihiro” do brilhante Hayao Miyazaki,
retrata a trajetória de uma garota (Chihiro) que adentra em uma espécie de cidade
em que vivem deuses e espíritos que, para recuperar os pais e voltar a sua vida
normal, precisa se adequar às normas dessa nova realidade. A película está
repleta de metáforas da sociedade atual em seus diversos aspectos, podendo-se,
inclusive, traçar diversas relações com o pensamento weberiano.
Uma das características mais marcantes do filme é “a casa de
banhos”: clara referência à sociedade e ao sistema econômico atual. A casa de
banhos é, notadamente, movida pelo capital e pelo lucro; os trabalhadores têm
que ser rápidos para atender todos os clientes; a jornada de trabalho é extensa
e exaustiva e nota-se, ainda, uma forte burocratização de todas as funções e
procedimentos lá existentes (é necessária a realização de uma série de etapas,
até mesmo para os procedimentos mais simples, como, por exemplo, para se
adquirir a essência de banho desejada).
Também é extremamente marcante como Hayao ilustra o conceito
de “contrato”. Para poder trabalhar na casa de banhos, Chihiro precisa assinar
um contrato mágico. Tal contrato faz uma genial metáfora do contrato racional
explicado por Weber, pois a magia presente neste contrato, que impede que o
mesmo seja violado, é uma clara referencia à lei fria e rígida, ou seja, à
norma jurídica, que é o meio rígido e racional para a garantia das relações
modernas.
Nota-se, assim, o complexo funcionamento da realidade atual,
que parece, como mostram a animação e Weber, assumir gradativamente aspectos
fortemente racionais e sistemáticos. Realidade que vem buscando, por meio de
artifícios como a burocratização e o contrato jurídico, adequar aspectos
culturais e econômicos a essa turbulenta sociedade; ou melhor, a essa grande
casa de banhos.
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