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domingo, 31 de março de 2024

O funcionalismo das frutas e da sociedade.

    Bianca bufou, afastando o livro de si e se deiando cair na cadeira, exausta. Ela não conseguia compreender a necessidade de se aprender sociologia, afinal "ela já vivia em sociedade, o que mais ela deveria saber?". 

    Sua mãe, que passava por perto, encarou o desânimo da filha e se aproximou. 

    _O que aconteceu, querida? 

    _ Eu não sonsigo entender esse cara, mãe! Por que eu preciso ficar aprendendo o que esse tal de Durkheim falou? Ele já morreu mesmo. 

    A mulher mais velha dirigiu a adolescente um sorriso doce. Aqueles que só as mães conseguem fazer com perfeição. Em seguida, ela se sentou ao lado da filha e leu a página da apostila que tinha "funcionalismo" como título. 

    _ Olhe, - a mãe disse, tomando para si a atenção da menina - Durkheim defendia que devemos analisar as coisas para chegar às ideias e não partir das ideias para chegar nas coisas. 

    A jovem arqueou a sobrancelha e suspirou profundamente. 

    _ Mãe - ela segurou as mãos da mais velha - isso não faz nenhum sentido.

    A mulher riu e depois se levantou, foi até a cozinha e em poucos segundos voltou com duas frutas, uma em cada mão. 

    _ Qual fruta você quer comer? - ela perguntou. 

    Bianca já achava que sua mãe estava tão louca quanto Durkheim, falando coisas sem sentido; mas agora ela tinha certeza de que a mulher elouqueceu de verdade. 

    Entretanto, a mão continuou olhando para ela e estendendo as duas frutas. Bianca então voltou-se para os alimentos. De um lado havia uma maçã, sua casca era tão vermelha quanto sangue e parecia brilhar sob seu olhar; do outro lado havia uma bolinha pequena de cor amarronzada e que Bia não sabia se estava suja de pelos ou se já era assim mesmo. 

    Não demorou nem um minuto para a resposta ser certeira. 

    _ A maçã, óbvio.  - a mãe sorriu lhe entrengando a maçã. 

    A menina sorriu apreciando a beleza da fruta em sua mão, em seguida a mordeu, pronta para deliciar-se com o doce. Contudo, o universo e sua mãe tinham outros planos para ela. 

    _ Mãe! - Gritou enquanto cuspia o pedaço da maçã - Você me deu uma maçã podre! 

    _ Primeiro, eu não te dei; você que escolheu. Segundo, se tivesse prestado atenção no que Durkhein disse, teria tomado mais cuidado na sua escolha. 

    _ Eu não to entendo nem o que você, nem o que Durkhein estão falando agora. 

    A mulher lhe deu mais um sorriso de mãe, enquanto cortava a fruta com pelinhos. 

    _ Durkhein dizia que devemos analisar os fatos "das coisas para as ideias", isso significa que que devemos primeiro entender, observar e estudar o objeto antes de tirarmos conclusões sobre ele, assim nossos julgamentos não irão influenciar nossas descobertas e decisões. 

    Bianca se virou para a mesa. De um lado havia uma maçã linda por fora, mas podre por dentro. Do outro, no entanto, tinha aquela frutinha marrom e peludinha, mas que por dentro era uma das frutas mais bonitas que Bianca já viu. Ela parecia uma daquelas mandalas de seu livro de desenho, cheia de pontinhos pretos, risquinhos brancos e de um verde tão vivo quanto o precioso jardim de sua vó. 

    _ Você seguiu o caminho que a maioria segue, mas que Durkheim critica. - apontou para a maçã - Você partiu das "ideias para as coisas", ou seja, você se baseou nas suas ideologias e pré-conceitos para decidir o que é "melhor" e não analisou o objeto ou a sua essência - sinalizou para o kiwi. 

    A menina olhava encantada para a mãe e para o livro. 

   "Então era isso que todos esses parágrafos estavam dizendo?"

    Ela finalmente estava começando a compreender o funcionalismo. 

    _ Mas, mãe o que isso tudo tem a ver com a sociedade? Afinal, a matéria chama sociologia e não 'frutologia'. 

    A mulher não conseguiu conter o riso. 

    _Durkheim usa esse mesmo método de observação para compreender os fatos sociais; ações, comportamentos, ideologias e valores que uma pessoa tem e que influenciam a sociedade em que ela vive. Então, ao invés de julgar alguém pela sua aparência ou pelo o que você acha que é certo ou errado, primeiro é necessário observar, estudar, relacionar o que você está vendo com a sociedade e não tirar julgamentos imediatos sem nenhum fundamento ue são baseados na aparência como verdade. Entendeu, querida? 

    A menina assentiu rapidamente, seus cabelos balançando rapidamente enquanto fazia isso. 

    _ Sabe, mãe, eu achava que Durkheim era um maluco que não fazia ideia do que ele estava falando, mas, na verdade, ele é muito inteligente. 

    A mulher mais velha sorriu e, em seguida, beijou o topo da cabeça da filha que já estava com o livro novamente na mão. 

    _ Sim, querida, ele é. 

 


Crônica feita por Beatriz Pasin de Castro - 1º ano - Direito (Matutino)

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