"Suma Ciência"
multiplicado por "Suma Potência" conduz à "Suma Felicidade".
A fórmula extraída da obra "A Cidade e as Serras" de Eça de Queirós
ilustra perfeitamente o conceito positivista de Auguste Comte, que preconiza a
dedicação à ciência. Durante a primeira metade do século XIX, o pensador
francês desenvolveu sua doutrina fundamentada no cientificismo, industrialismo
e na formulação de "leis invariáveis". Assim como Jacinto, o
protagonista, que inicialmente, na narrativa de Eça, acreditava encontrar a
felicidade somente no avanço tecnológico, Comte via na ciência o único caminho
viável para o progresso de uma sociedade, alcançando, desse modo, o ápice
evolutivo máximo.
Entretanto, nos dias de hoje, tais
preceitos positivistas são reinterpretados sob uma perspectiva crítica. Assim,
apesar de as ideias de Comte terem moldado a concepção de sociologia e
impulsionado diversos movimentos cruciais para o desenvolvimento da civilização
ocidental como a conhecemos, tais princípios teóricos suscitam diversas
questões na sociedade contemporânea. Isso porque, o positivismo preconiza que,
em prol do progresso, deve-se suprimir a noção de indivíduo em favor do
coletivo, ou seja, há uma abdicação do eu em prol do todo: "eu nego minhas
aflições e problemas para que a ordem permaneça". Dessa forma, indivíduos
que buscam desafiar esse equilíbrio são considerados adversos. No entanto, qual
é essa "ordem" que deve ser mantida e quem a determina?
Historicamente, é o homem branco, representante da elite detentora do poder,
que estabelece as "leis invariáveis" as quais, sob a visão
eurocêntrica e machista de Comte, devem ser perpetuadas. Isso reforça a
aceitação dos "papéis sociais" e suas respectivas posições,
legitimando, por meio do ideal positivista, uma justificativa para a manutenção
das profundas disparidades socioeconômicas presentes no mundo.
No entanto, de acordo com o
biógrafo Romain Rolland: "Quando a ordem é injusta, a desordem é já um
princípio de justiça." Assim, nas últimas décadas, vários grupos têm
lutado incansavelmente pela subversão dessa ordem social arcaica e pela instauração
de uma estrutura que promova a equidade.
Portanto, assim como Jacinto, ao
longo da narrativa, vai desconstruindo a ideia de progresso centrada
exclusivamente na ciência e na ordem social, o ideal positivista tem sido
contestado e reformulado ao longo do tempo em prol da inclusão social, visando
uma sociedade mais justa e equitativa.
Maria Vitória Ferreira – 1º ano
Direito Matutino
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