Dificuldade da coragem
O despertar da vida é, por si só,
um processo doloroso, pior do que isso é o despertar em uma sociedade mecânica,
frívola e gélida como a nossa. Já diria Guimarães Rosa que o correr da vida
embrulha tudo, porém, ouso dizer que o modelo em que vivemos hoje está além de
um simples “correr”. Estamos sempre em uma maratona constante, competindo, seja
uns com os outros ou de forma solitária. A necessidade de ser um alguém
produtivo, a necessidade do “ter que ser”, a necessidade em poder dizer “desculpe,
não tenho tempo”, com certeza é essa que embrulha tudo.
E seria poético pensar em uma
vida embrulhada, não? E de fato é, ter a vida corrida e atarefada, em certas ocasiões,
é um ato bonito. Mas acontece que nos perdemos e tornamos o poético uma rotina,
característica que nos faz uma sociedade doentia. Compreender a finitude de uma
existência e limitá-la à produzir capitais e bens materiais é reduzir o ser
humano ao insignificante, ao código de barras e matéria – prima.
De fato, o modelo social hoje é
esse: máquinas ambulantes! Todos correndo em uma vida embrulhada, alienados do
que são, do que fazem e do que desejam. Sonham aquilo que lhes vendem, defendem
aquilo que o patrão dita como certo e defendem a exploração que sofrem com
posts escritos “amo minha empresa”, é mesmo um cenário perfeito criado pelo
capitalismo. Sistema esse bem engendrado pelas massas dominantes para manipular
as classes populares e enganar a classe média com a ideia esdrúxula de meritocracia.
Triste em pensar e pior ainda vivenciar, ainda que a vida espere a coragem da
nossa parte, é difícil ser ainda mais alegre nessa tristeza mecânica, Guimarães.
Julia Samartino, 1° Direito Matutino.
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