Qualquer um que, nos últimos
anos, tenha feito uso do transporte metropolitano da capital paulista com
alguma regularidade certamente teve a oportunidade de observar o fenômeno dos
vendedores ambulantes, ou ao menos aspirantes ao posto. Sim, há os camelôs, e
há os aspirantes a camelôs, porque a Companhia Paulista de Transporte
Metropolitano não permite o comércio ambulante no interior de seus trens e
estações. Disso resulta que muitos que buscam afrontar a regra vendendo seus
chocolates, chicletes, fones de ouvidos, pães de mel, entre tantas outras
mercadorias, frequentemente perdem seus produtos para algum guarda da estação.
Nestes breves parágrafos,
olharemos para essa conjuntura sob a perspectiva do materialismo histórico de
Marx e Engels.
Primeiramente,
há que se notar que somente optam pelo comércio ambulante como trabalho aqueles
que se encontram em condição de marginalização abjeta. Então, lembra-se que são
privados de sua fonte de renda porque a sua atividade laboral, embora
perfeitamente insonte de geração de danos a outras pessoas, é banida naquele
local.
Ora, pensemos agora na humanidade
como esse ente em permanente processo de desenvolvimento, resultante não de
vontades entendidas individualmente, mas de uma força histórica determinada
pelas relações de produção. O que representam o camelô e o aspirante a camelô
da Estação São Joaquim do Metrô em termos desse curso da humanidade? A que tipo
de relação de produção eles estão sujeitos?
A resposta a esta última pergunta
é evidente: a nenhuma. Sim, a nenhuma. Esses sujeitos são colocados tão à parte
da coletividade, da rede de relações fundadas no capital, que lhes é tirada até
mesmo a possibilidade de estabelecer as relações de produção eivadas de
exploração características de toda sociedade do capital. Isso não significa, é
claro, que esses indigentes se veem livres da exploração: esta apenas deixa a
esfera particular, de um empregado explorado por seu empregador, por exemplo, e
entra na esfera mais ampla do particular que toda uma sociedade explora, no
sentido de que ele somente se encontra em sua situação de patente precariedade
por causa de todo um sistema que rege aquela sociedade, um sistema
inelutavelmente vinculado à mais-valia e que portanto tem a exploração do
trabalho em seu próprio cerne.
O vendedor ambulante e aquele que
tenta sê-lo na estação de metrô são apenas mais uns dos incontáveis “ninguéns”,
dos incontáveis “nadas”, dos incontáveis ignorados desse sistema, condenados à
sua situação em decorrência de uma série de privilégios que uns detêm mas que a
eles, arbitrariamente, não couberam, e de ser o sistema em que se inserem tal
que aquele que não encontra maneiras de explorar com maior eficiência as
fraquezas de seus semelhantes a fim de atender aos próprios interesses é
deixado para trás, a apenas olhar todos os que o passam e nunca o olham, porque
para cada um nada importa além de si
Nenhum comentário:
Postar um comentário