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segunda-feira, 13 de junho de 2022

O trabalhador sem capital

   

            Levanto-me todos os dias às 4:40 da manhã e movo-me como um robô para pegar o ônibus mais lotado, cheio de outros robôs iguais a mim. É uma rotina desgastante, exaustiva, mas é necessária. Tenho 3 filhos e uma esposa para sustentar. Nós cinco somos dependentes exclusivos de um mísero salário de operário numa fábrica do milionário da cidade - ou seja, o dono de tudo e comandante verdadeiro do local onde moro.

Chego ao trabalho, como todos os dias, às 7:10 da manhã. 10 minutos atrasado pelos comunais problemas do transporte público, o desconto mensal acumulado ao meu salário por esse tempo não trabalhado. Hoje foi o dia de receber e apareceu um desconto a mais no meu salário, um desconto pelo aumento dos impostos sobre a fábrica, segundo meu patrão, ele não poderia deixar acometer em seus lucros. Bom, para ele não importa que eu tenha aumentado minha produtividade, era uma mera vantagem financeira para ele, mas não para mim. Produzo muito mais do que ganho, enquadra-se aqui meu conceito pessoal de mais-valia.

Aproveito o dia deprimente para visitar minha mãe antes de dar as más notícias a minha esposa, teremos de comprar uma caixa de leite a menos e reutilizar o máximo possível das fraldas do bebê. Já eram em torno das 8 horas da noite quando cheguei na casa dos meus pais. Contei-os sobre as desvantagens de hoje e minhas apreensões, apenas um desabafo casual. Minha mãe disse-me que preciso agradecer a Deus por ainda possuir um emprego, pois ouvira no jornal que haviam 3,4 milhões de desempregados, pessoas sem sustento algum para oferecer aos seus parentes. Ao menos um saco de arroz por mês eu poderia proporcionar.

Movo-me para casa novamente. Chego por volta das 11 horas da noite, meus filhos já estão dormindo e sinto que estou perdendo de acompanhar suas infâncias, fui obrigado a carregar o posto de pai ausente para possibilitar que eles sobrevivam. Conto à minha esposa sobre o rumo de nossas condições financeiras e consigo observar uma ruga de preocupação surgindo em sua testa. 

Todos aqueles que um dia disseram que o pobre apenas é pobre pois quer continuar em sua situação por comodismo são grandes mentirosos. Não há nada de cômodo nisso, não há nada de gratificante trabalhar como um condenado e perder todos os momentos com minha família para ao final do mês não possuir nada além do básico, necessitando agradecer por ao menos ter isso. Karl Marx e Engels nunca estiveram errados, o capitalismo é a ideologia pura existente na exploração.


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