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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

PENSAMENTOS À CONTEMPORANEIDADE: UM APELO À UNIDADE.

 Émile Durkheim apresentara uma visão dessemelhante acerca da natureza da
sociedade com relação à outros pensadores, elevando a sociedade à uma categoria ontológica
não antes refletida. Enxergava que havia desde o princípio um primado da sociedade sobre o
homem, uma vez que o indivíduo a parte da sociedade seria deveras impossível, certo de que
é uma verdade auto evidente que o homem é um ente essencialmente social. Há algo que
compõe a parte apetitiva de nossas almas que nos conduz ao desejo de estabelecer conexões,
relações humanitárias que nos preenchem e moldam a quem nós somos enquanto seres
racionais e livres. Assim, pelo iniciar das interações humanas, que surgira a sociedade, e,
portanto, o indivíduo enquanto um fim em si mesmo. Acontece que tais relações se
desenvolveram e se tornaram cada vez mais complexas, formando verdadeira teias
espontâneas e entrelaçadas de consciências individuais que, somadas, formaram uma entidade
conhecida pelo pensador como a “consciência coletiva”. A sociedade não seria uma simples
soma de indivíduos, mas na verdade uma consciência exterior ao indivíduo, que o faz existir,
lhe dando um sentido. Concluindo, para a sociedade atingir “o jeito como ela é”, pressupõe-se
inevitável a existência da unificação entre indivíduos, configurando ao indivíduo sua potência
natural enquanto ser social.
    É um fato social que unificadores sociais são de extrema importância para o
indivíduo — porque é isto que o fez quem ele é — e é importante que os reconheçamos e
difundamos esses identificadores em comum a fim de que possamos evitar cada vez mais com
que entremos em estados de anomia social. E Durkheim nos lembrava do perigo da anomia,
isto é, estado de caos e crise social ao ser um grande causador de suicídios. Inegavelmente,
dessarte, vivemos numa crise que precede quaisquer crises políticas e/ou econômicas:
vivemos sob o caos da passividade das paixões, a qual perverte o princípio ativo da sociedade.
Não há nada que gere mais cizânia social do que o tétrico mundo das paixões, que retiram do
caráter da sociedade a unificação que deveria haver entre os indivíduos, os jogando numa
guerra de todos contra todos, eliminando sua interdependência e o afastando de sua
necessidade enquanto ser sociável. Não existe algum vetor de anomia social mais intenso do
que a paixão, certo de que ela é antinatural para a sociedade sob a ótica ontoárquica.
    Para tanto, ressalta o filósofo Durkheim que a sociedade enquanto um sistema
também conjectura um tecido de solidariedade por semelhança, onde os membros de uma
coletividade compartilham os mesmos sentimentos e tomam como sagrados os mesmos
valores, onde a consciência individual não se diferencia tanto da consciência coletiva, não
havendo muitos conflitos. Se as paixões separam e geram conflitos sociais, é preciso que
insistamos, como mencionado anteriormente, na preservação da mecanicidade da sociedade,
ou seja, em valores de união, que despertem nos indivíduos aquilo que têm em comum,
fortalecendo os laços comunitários, e rumando à uma sociedade harmônica, cumprindo seu
papel teleológico.
    Com esse objetivo, a priori, precisamos convencer os indivíduos a ter apego e amor
por aquilo que é metafisicamente elevado, ajustando a substância de nossa alma em
concomitância com a essência de todas as coisas, os Valores Transcendentais. A única forma
de evitar com que a passividade perverta o princípio ativo da ação humana em sociedade é
fazendo com haja um reconhecimento coletivo pela perseguição daquilo que é o bem, o belo e
o verdadeiro. Essas três raízes seriam suficientes para que uma sociedade possa acumular
frutos elevadíssimos em sua tradição que reforcem a convivência harmônica na integração
humana, com base naquilo que prezam de acordo com o transcendental, como a família, o
amor, o sentimento de pertencer à uma cultura ou nacionalidade, a religião, a busca pela
verdade, etc.
    Finalizando, Durkheim, em seu livro sobre o suicídio, constata que das análises que
fez, havia maior taxa de suicídio em comunidades protestantes do que católicas, realçando a
noção da integração religiosa; constata que havia mais suicídios entre solteiros do que
casados, evidenciando a noção da coesão familiar; também observa que a taxa de suicídios
diminuía em grandes acontecimentos históricos que salientavam a união em torno da ideia de
uma nacionalidade. Sem dúvidas, qualquer força contrária à integração do homem para com o
próximo, o deixando de estar em conformidade com sua natureza enquanto ser sociável,
demove-lhe a razão para viver. Somos complementares, e a complementaridade deve ser
matéria de busca. Que possamos nos unir ao lutar contra as paixões e pautar nossas vidas na
busca pela verdade, pelo amor, beleza e as consequências desses pilares expressos por aquilo
que prezamos.


Fernando Carvalho da Silva

Direito: Norutno.

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