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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Com ou sem crime, ainda há castigo

“Compara-se por vezes a crueldade do homem com a dos animais selvagens; é uma injustiça com estes. As feras não atingem jamais os refinamentos do homem”

“Os irmãos Karamázov”, de Fiódor Dostoiévski, publicado em 1879.

Durante a madrugada desse domingo de dia dos pais (08/08), um aluno residente da Moradia Estudantil da USP foi preso pela Policia Militar em uma ação dentro do espaço da Moradia. Os policiais estavam altamente armados e inicialmente não justificaram a prisão. Mais tarde, o aluno Giovani Schiaroli foi informado que a mesma foi dada devido a uma alegação de que ele seria o culpado por jogar uma pedra na viatura, que resultou em uma colisão do veículo com uma árvore. Os policiais, entretanto, não ofereceram nenhuma prova durante a audiência de custodia.

Essa prisão representa, acima de tudo, uma demonstração de poder e um apelo por obediência. Quando policiais militares vão buscar um aluno preto dentro de um espaço majoritariamente composto de jovens de renda baixa, altamente armados e sem dar explicação ou acusação formal no primeiro momento, é mandado uma mensagem, não apenas para esse aluno, como para todos os outros naquele espaço.

O filósofo Durkheim reforça essa ideia em sua análise sobre a pena, quando afirma que essa é movida por um instinto de vingança que busca, não apenas destruir o que nos faz mal, mas também pelo próprio instinto de preservação. Aquele que é punido, tem a função social de servir como exemplo.

           O fato de que esse caso não é um caso isolado e muito menos o primeiro, demonstra que, ou há um interesse do Estado em reprimir e assustar esses alunos de universidades públicas, ou então há um medo do que esses alunos representam na nossa sociedade. No primeiro caso, a repressão dos alunos de universidades publicas representa um projeto para calar essas vozes, para que o Estado não seja questionado e a Academia não sirva como oposição. Já no segundo caso, tem relação com a quebra do paradigma social. Ou seja, usando da classificação de Durkheim de ato criminoso como aquele que ofende a consciência coletiva, pode-se dizer que a presença crescente de pretos dentro da realidade acadêmica brasileira, de muitas formas, por si só já é considerada uma transgressão, e essas ações são uma tentativa de punir esse grupo de pessoas e “coloca-las em seu devido lugar”, para que se sintam cada vez menos bem vindas nesse espaço.

Vitoria Talarico de Aguiar, matutino

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