Em ‘’Novum Organum’’, Francis Bacon pontua a ‘’antecipação da
mente’’ e a crença em saberes absolutos como empecilhos a razão humana e,
portanto, à construção do conhecimento e ao avanço social. Com essas
pontuações, o filósofo nos ajuda a entender diversas questões contemporâneas, dentre
elas, a manutenção da mentalidade homofóbica.
Apesar de ter sido
retirada da lista de patologias da OMS e de estar registrada em mais de 1500
espécies, a homossexualidade ainda é vista por parcela significativa da sociedade
como um comportamento ‘’antinatural’’ e passível de ‘’cura’’. Essa postura social,
porém, tem seus principais alicerces na religião e em teorias científicas ultrapassadas.
Durante séculos, a ciência viu a questão como um transtorno
mental e homossexuais foram submetidos a ‘’tratamentos’’ desumanos. Hoje, a comunidade
científica não aceita a ideia da homossexualidade como doença. No entanto, sujeitos influentes como Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e Silas Malafaia dialogam com uma quantidade assustadora da pessoas ao se referir a questão como ''anomalia'' e ''escolha''. Em seus discursos, eles se utilizam de argumentos religiosos e ''pseudo-científicos'' para condenar e perseguir qualquer comportamento avesso à heterossexualidade.
Esse apego as teorias
do século XIX ignora que o conhecimento se
altera no espaço e no tempo. Enquanto o alicerce religioso coloca os escritos sagrados
como inquestionáveis e se pauta em uma interpretação hipócrita das palavras celestiais. A bíblia, por exemplo, diz ‘’amai ao
próximo como a si mesmo’’ e condena à homossexualidade tanto quanto a luxúria, a
inveja, a corrupção, enfim, tanto quanto diversos atos que nós humanos cometemos com frequência.
Mas, tais partes são ignoradas e apenas o que convém é difundido.
Além da noção de verdades absolutas, o grande alcance desses líderes políticos e religiosos ocorre porque o discurso deles se baseia no que Bacon chama de ''antecipação da mente''. As falas em torno da ''cura gay'' e de falácias como ''a ausência da figura paterna e a convivência com gays podem fazer o indivíduo virar homossexual'' se assemelham àqueles discursos veiculados durante séculos e que se apresentam como ''verdade'' para o senso comum. Ou seja, esses políticos e religiosos dialogam com os preconceitos enraizados na mentalidade social.
Diante desse cenário, percebe-se que a homofobia provém da crença em verdades inabaláveis e da antecipação da mente, isto é, ela é fruto da ignorância. Ir na contramão das pontuações de Bacon resulta, atualmente, na intolerância, a qual- por sua vez- traz um imenso retrocesso em termos de direitos humanos: agressões físicas e morais aos homossexuais e civis, como a não aceitação da união civil homoafetiva.
Juliana Inácio- 1 ano de direito (noturno)
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