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segunda-feira, 21 de março de 2016

Coerção afetiva

  Em ‘’Novum Organum’’, Francis Bacon pontua a ‘’antecipação da mente’’ e a crença em saberes absolutos como empecilhos a razão humana e, portanto, à construção do conhecimento e ao avanço social. Com essas pontuações, o filósofo nos ajuda a entender diversas questões contemporâneas, dentre elas, a manutenção da mentalidade homofóbica.
  Apesar de ter sido retirada da lista de patologias da OMS e de estar registrada em mais de 1500 espécies, a homossexualidade ainda é vista por parcela significativa da sociedade como um comportamento ‘’antinatural’’ e passível de ‘’cura’’. Essa postura social, porém, tem seus principais alicerces na religião e em teorias científicas ultrapassadas.
  Durante séculos, a ciência viu a questão como um transtorno mental e homossexuais foram submetidos a ‘’tratamentos’’ desumanos. Hoje, a comunidade científica não aceita a ideia da homossexualidade como doença. No entanto, sujeitos influentes como Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e Silas Malafaia dialogam com uma quantidade assustadora da pessoas ao se referir a questão como ''anomalia'' e ''escolha''. Em seus discursos, eles se utilizam de argumentos religiosos e ''pseudo-científicos'' para condenar e perseguir qualquer comportamento avesso à heterossexualidade. 
   Esse apego as teorias do século XIX ignora que o conhecimento se altera no espaço e no tempo. Enquanto o alicerce religioso coloca os escritos sagrados como inquestionáveis e se pauta em uma interpretação hipócrita das palavras celestiais. A bíblia, por exemplo, diz ‘’amai ao próximo como a si mesmo’’ e condena à homossexualidade tanto quanto a luxúria, a inveja, a corrupção, enfim, tanto quanto diversos atos que nós humanos cometemos com frequência. Mas, tais partes são ignoradas e apenas o que convém é difundido. 
  Além da noção de verdades absolutas, o grande alcance desses líderes políticos e religiosos ocorre porque o discurso deles se baseia no que Bacon chama de ''antecipação da mente''. As falas em torno da ''cura gay'' e de falácias como ''a ausência da figura paterna e a convivência com gays podem fazer o indivíduo virar homossexual'' se assemelham àqueles discursos veiculados durante séculos e que se apresentam como ''verdade'' para o senso comum. Ou seja, esses políticos e religiosos dialogam com os preconceitos enraizados na mentalidade social. 
 Diante desse cenário, percebe-se que a homofobia provém da crença em verdades inabaláveis e da antecipação da mente, isto é, ela é fruto da ignorância. Ir na contramão das pontuações de Bacon resulta, atualmente, na intolerância, a qual- por sua vez- traz um imenso retrocesso em termos de direitos humanos: agressões físicas e morais aos homossexuais e civis, como a não aceitação da união civil homoafetiva. 

Juliana Inácio- 1 ano de direito (noturno)

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