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domingo, 17 de março de 2024

Ordem e Progresso

 

“Ordem e progresso”. O lema da tradicional bandeira brasileira remete aos ideais da corrente filosófica conhecida como positivismo, sendo Augusto Comte o criador dessa linha de pensamento. Apesar de sua criação ter se dado na França, essa teoria acabaria por se impregnar na história brasileira até os dias de hoje, seja de maneira direta ou indireta, acabando por ter parte de suas ideias perpetuadas por ideologias conservadoras do século XXI.

A sociologia, de acordo com Comte, seria uma “Física Social”, isto é, uma área do conhecimento que visa compreender a humanidade e as suas relações através de noções pontuais, sem muita interpretação. Diante disso, da mesma maneira que há leis inalteráveis no ramo das ciências exatas, elas também existem nas estruturas sociais, uma vez que é entendido que a existência da sociedade é pautada em fatores que servem como alicerce para o seu funcionamento.      

Apesar de parecer cabível em primeiro momento, a teoria começa a ser distorcida a partir do instante em que a família e a estrutura de classes passam a ser tidos como fundamentais para a existência da sociedade e, portanto, torna-se  essencial a manutenção e a proteção desses elementos. Com isso, surgem, ao redor do mundo, interpretações que defendem um certo modelo de família e que repudiam qualquer união que não seja heterossexual, junto de visões preconceituosas sustentadas pela noção de “lugar na sociedade”.

No que diz respeito ao Brasil, o positivismo, em primeiro momento, pode ser considerado progressista, em certa medida. A influência dessa corrente filosófica viria a se expressar, principalmente, na ideologia militar, havendo a defesa de ideais de “evolução social” através dos avanços científicos e tecnológicos, de modo que o período brasileiro conhecido como República da Espada (1889-1894) – momento em que Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram presidentes - defenderia a implantação da indústria no Brasil, que, na época, seria o ápice dessa evolução.

Já em segundo momento, saltando para o Golpe Militar de 1964, fica evidente que o positivismo é utilizado para a construção de uma ideologia conservadora. Através da distorção dessa filosofia francesa, há a construção de uma mentalidade que utiliza do nacionalismo como ferramenta, explorando a ideia de bem comum. Por meio desse discurso, é entendido que, para o bem do povo brasileiro, a intervenção militar se tem como necessária, uma vez que há, juntamente, a luta contra uma “ameaça comunista” de João Goulart. “Perigo” esse que é considerado um comportamento subversivo, visto que teria como fundamento a extinção das diferenças entre classes, contrariando uma das "leis fundamentais" para o funcionamento da sociedade.

Por fim, nos dias de hoje, com a eleição de Jair Bolsonaro no ano de 2018 e com a expansão do discurso de extrema direita, fica evidente que houve a perpetuação do mesmo pensamento que existia há 60 anos. Através de discursos de “família tradicional” e de contestação às cotas, fica claro que ainda existe o medo quanto à quebra das “leis universais da humanidade”, havendo, desse modo, a influência da corrente de Augusto Comte, mesmo que seja de maneira indireta.       

Diante disso, infere-se que o positivismo no Brasil acabou por se afastar de sua essência de avanços científicos e tecnológicos e acabou por se tornar um caminho para atitudes antidemocráticas, seja em 1964, seja nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023. Mesmo com as décadas de diferença, vê-se a mesma fórmula de construções no imaginário popular, que acaba por sempre ser utilizada como ferramenta enquanto os controlados acreditam estar contribuindo para a “Ordem” e o “Progresso”.                                                            

Augusto Ferreira Viaro - 1º ano de direito (matutino) / RA: 241224268

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