A imaginação sociológica proposta pelo sociólogo Wright
Mills estabelece que para entender a sociedade do recorte temporal em que está
inserido, o indivíduo precisa estar entre o coletivo, de maneira a criar um
pensamento coletivo. Dessa maneira, há uma diferença entre o pensamento
individual e o pensamento coletivo, sendo o primeiro chamado por Mills de
“perturbações pessoais” e o segundo de “questões públicas”.
As perturbações pessoais, segundo Mills, C. Wright (1965,
p.14) “ocorrem dentro do caráter do indivíduo e dentro do âmbito de suas
relações imediatas com os outros; estão relacionadas com o seu eu e com as
áreas limitadas da vida social, de que ele tem consciência direta e pessoal”.
Ou seja, dizem parte aos valores individuais e que são insuficientes para
entender uma sociedade de maneira científica. Já as questões públicas, dizem
respeito as preocupações que interferem no coletivo. Atualmente, os valores coletivos no Brasil são de ordem conservadora, e quando esses valores são atacados, Mills
diz que se experimenta uma crise, e se todos os valores estiverem sendo
atacados, sente-se a ameaça total do pânico.
Dito isso, percebe-se que existe uma interferência das
questões públicas sobre as perturbações sociais. Quando esses valores que passam a ser também
pessoais, sentem a mudança que ocorre naturalmente na sociedade, cria-se uma
noção de colapso dos valores tradicionais e comentários como do Nelson Mesquita:
“Tenho 48 anos, ai que saudade do tempo que as meninas usavam vestido e laço no
cabelo. (...) Saudade de cantar o hino nacional uma vez por semana na escola,
saudade também das aulas de moral e cívica”. Esse tipo de comentário expressa a realidade
de uma sociedade que é bombardeada de informações -retrógradas na maioria
delas- e que não consegue ter a capacidade de desenvolver um senso crítico
sobre políticas que são conservadoras, machistas e positivistas. Sobre isso,
Mills, C. Wright (1965) havia previsto no seu escrito: “Não é apenas de
informação que precisam - nesta Idade do fato, a informação lhes domina com a
frequência a atenção e esmaga a capacidade de assimilá-la e digeri-la”
Por outro lado, Grada Kilomba em seu livro “Memórias da
plantação: episódios de um racismo cotidiano” traz a ideia de fazer ciência a
partir das experiências individuais, priorizando mais o individuo e menos o
coletivo. Esse escrito é usado no contexto de luta para conquistar espaço na
ciência atual, que põe a margem cientistas negros e prioriza a ciência branca,
europeia, do centro. Porém também pode ser pensado como uma forma de ciência
alternativa para todos, tendo em vista democratizar o conhecimento e mitigar
episódios como o do Nelson Mesquita, que representa a visão de boa parte da
população brasileira.
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