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domingo, 17 de março de 2024

Imaginando e pensando o Brasil do século XXI a partir de Wright Mills e Grada Kilomba

 

A imaginação sociológica proposta pelo sociólogo Wright Mills estabelece que para entender a sociedade do recorte temporal em que está inserido, o indivíduo precisa estar entre o coletivo, de maneira a criar um pensamento coletivo. Dessa maneira, há uma diferença entre o pensamento individual e o pensamento coletivo, sendo o primeiro chamado por Mills de “perturbações pessoais” e o segundo de “questões públicas”.

As perturbações pessoais, segundo Mills, C. Wright (1965, p.14) “ocorrem dentro do caráter do indivíduo e dentro do âmbito de suas relações imediatas com os outros; estão relacionadas com o seu eu e com as áreas limitadas da vida social, de que ele tem consciência direta e pessoal”. Ou seja, dizem parte aos valores individuais e que são insuficientes para entender uma sociedade de maneira científica. Já as questões públicas, dizem respeito as preocupações que interferem no coletivo. Atualmente, os valores coletivos no Brasil são de ordem conservadora, e quando esses valores são atacados, Mills diz que se experimenta uma crise, e se todos os valores estiverem sendo atacados, sente-se a ameaça total do pânico.

Dito isso, percebe-se que existe uma interferência das questões públicas sobre as perturbações sociais.  Quando esses valores que passam a ser também pessoais, sentem a mudança que ocorre naturalmente na sociedade, cria-se uma noção de colapso dos valores tradicionais e comentários como do Nelson Mesquita: “Tenho 48 anos, ai que saudade do tempo que as meninas usavam vestido e laço no cabelo. (...) Saudade de cantar o hino nacional uma vez por semana na escola, saudade também das aulas de moral e cívica”.  Esse tipo de comentário expressa a realidade de uma sociedade que é bombardeada de informações -retrógradas na maioria delas- e que não consegue ter a capacidade de desenvolver um senso crítico sobre políticas que são conservadoras, machistas e positivistas. Sobre isso, Mills, C. Wright (1965) havia previsto no seu escrito: “Não é apenas de informação que precisam - nesta Idade do fato, a informação lhes domina com a frequência a atenção e esmaga a capacidade de assimilá-la e digeri-la”

Por outro lado, Grada Kilomba em seu livro “Memórias da plantação: episódios de um racismo cotidiano” traz a ideia de fazer ciência a partir das experiências individuais, priorizando mais o individuo e menos o coletivo. Esse escrito é usado no contexto de luta para conquistar espaço na ciência atual, que põe a margem cientistas negros e prioriza a ciência branca, europeia, do centro. Porém também pode ser pensado como uma forma de ciência alternativa para todos, tendo em vista democratizar o conhecimento e mitigar episódios como o do Nelson Mesquita, que representa a visão de boa parte da população brasileira.

 

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