A
auto-ajuda deve ser considerada literatura?
Na atualidade, existem
inúmeras áreas do saber relacionadas a promover auxílio para indivíduos
conquistarem melhores condições de vida, não restrito ao sentido financeiro,
mas mental e emocionalmente. Desde a psicologia até o uso das ciências humanas
no cotidiano, o que essas áreas do conhecimento possuem em comum é o método
científico para obter seus ensinamentos. Combinando teorias completas,
pesquisas extensivas a experimentações necessárias, passaram pelo escrupuloso
filtro da ciência para poder auxiliar indivíduos a conquistarem melhor
bem-estar. No entanto, apesar da existência de saberes ricos, embasados na
razão, como as ciências citadas, um número cada vez maior de pessoas busca
conforto, não com cientistas, mas com autores de livros de auto-ajuda, pseudo-gurus
e os recentes coachs (pressupostos profissionais que dizem ajudar pessoas
a conquistarem melhorias).
Assim, resta-nos
a reflexão sobre como um gênero
literário fundamentado em divulgar como pessoas deveriam viver suas vidas
alcançou o status de best-seller, influenciando milhares de pessoas, sendo que
seus autores não precisam de nenhuma qualificação profissional para publicar,
além da própria opinião pessoal (embebida em doses cavalares de auto-confiança) de que sabem como auxiliar seus
leitores a conquistarem a felicidade, sem a necessidade de métodos científicos
para embasar seus escritos.
A principal
diferença entre um livro de auto-ajuda e um tomo da psiquiatria ou da
sociologia é que qualquer um pode escrever um livro de auto-ajuda. Não há
nenhum filtro, teste, responsabilidade científica separando a ficção da
realidade, o que cria um grande palco para a proliferação de meias-verdades,
dicas manipuladores e ajuda apelativa e comovedora. Há séculos, o método
científico de testagem de conhecimento foi construído e aperfeiçoado,
perpassando grandes mentes como Descartes e Bacon, apenas para ser descartado
por autores populares que acreditam, não com base na razão, mas sim na opinião,
não precisarem disso.
A grande
questão que resta, portanto, é: por que tais livros, sem embasamento
científico, vendem tanto?
Talvez a
reflexão deva ser menos quanto ao oportunismo dos seus autores, ao descartar os
rigores normativos do método científico (justamente o que o torna confiável), e
mais quanto a sociedade que os compra. Se autores de livros de auto-ajuda
possuem vendas tão estrondosas, como anda a capacidade da sociedade de pensar
cientificamente?
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