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domingo, 17 de março de 2024

A auto-ajuda deve ser considerada literatura?

 

A auto-ajuda deve ser considerada literatura?

 Na atualidade, existem inúmeras áreas do saber relacionadas a promover auxílio para indivíduos conquistarem melhores condições de vida, não restrito ao sentido financeiro, mas mental e emocionalmente. Desde a psicologia até o uso das ciências humanas no cotidiano, o que essas áreas do conhecimento possuem em comum é o método científico para obter seus ensinamentos. Combinando teorias completas, pesquisas extensivas a experimentações necessárias, passaram pelo escrupuloso filtro da ciência para poder auxiliar indivíduos a conquistarem melhor bem-estar. No entanto, apesar da existência de saberes ricos, embasados na razão, como as ciências citadas, um número cada vez maior de pessoas busca conforto, não com cientistas, mas com autores de livros de auto-ajuda, pseudo-gurus e os recentes coachs (pressupostos profissionais que dizem ajudar pessoas a conquistarem melhorias).

 Assim, resta-nos a reflexão sobre como um gênero literário fundamentado em divulgar como pessoas deveriam viver suas vidas alcançou o status de best-seller, influenciando milhares de pessoas, sendo que seus autores não precisam de nenhuma qualificação profissional para publicar, além da própria opinião pessoal (embebida em doses cavalares de auto-confiança) de que sabem como auxiliar seus leitores a conquistarem a felicidade, sem a necessidade de métodos científicos para embasar seus escritos.

 A principal diferença entre um livro de auto-ajuda e um tomo da psiquiatria ou da sociologia é que qualquer um pode escrever um livro de auto-ajuda. Não há nenhum filtro, teste, responsabilidade científica separando a ficção da realidade, o que cria um grande palco para a proliferação de meias-verdades, dicas manipuladores e ajuda apelativa e comovedora. Há séculos, o método científico de testagem de conhecimento foi construído e aperfeiçoado, perpassando grandes mentes como Descartes e Bacon, apenas para ser descartado por autores populares que acreditam, não com base na razão, mas sim na opinião, não precisarem disso.

 A grande questão que resta, portanto, é: por que tais livros, sem embasamento científico, vendem tanto?

 Talvez a reflexão deva ser menos quanto ao oportunismo dos seus autores, ao descartar os rigores normativos do método científico (justamente o que o torna confiável), e mais quanto a sociedade que os compra. Se autores de livros de auto-ajuda possuem vendas tão estrondosas, como anda a capacidade da sociedade de pensar cientificamente?

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