Baseado na obra "The Turning Point", 1983, do austríaco
Fritjof Capra, o filme "Mindwalk", 1990, dirigido por Bernst Capra
incita a discussão em torno do conhecimento humano, balizada por conceitos de vida, moral,
realização pessoal, desenvolvimento e futuro da humanidade.
Os protagonistas escolhidos para essa temática ampla são o
político frustrado Jack Edwards com sua postura pragmática; a desiludida cientista
Sonia Hoffman, de visão multidisciplinar e racional e; o realizado poeta Thomas
Harriman. O ambiente desse enredo não poderia ser melhor: o Monte Saint-Michel,
França. O vilarejo medieval reúne a arquitetura aguda da abadia e fortes que
cercam essa pequena porção de terra. Diariamente, a natureza manifesta sua
exuberância através das marés, que inundam o charco e transformam o cenário em uma
ilha. O homem resiste às contrariedades e interfere no ambiente hostil; a natureza
se revela inflexível.
Da observação dos engenhos por trás do relógio da abadia, os
personagens evocam a ideia de que a hora exibida não é mais o tempo da natureza
em nós; trata-se apenas do tempo mecânico, que marcou a ruptura do homem com a
natureza. Para Descartes, o corpo dos animais poderia ser ilustrado como uma
máquina; o do ser humano, talvez, como a mais sofisticada das máquinas até então: o
relógio. Os personagens observam esse "homem" preciso, mas desconecto do mundo.
Nesse novo período, as crenças cederam lugar ao método, à experimentação,
à observação e às teorias científicas, que deveriam ser aplicadas para o bem do
homem e na investigação de novos fenômenos. O conhecimento humano foi expandindo
fronteiras e se acumulando como em uma caixa de ferramentas que, quando necessário, se abre para ser útil.
Para Sonia, essa visão mecanicista sob os fenômenos naturais
e os seres vivos foi positiva ao estabelecer o alicerce para o desenvolvimento das
ciências. Desafios foram lançados e alcançados pelos cientistas; a vida na
Terra melhorou. Mas, para Sonia, a ciência patrocinada foi corrompida pela
ganância dos homens e colocada a serviço dos interesses econômicos.
Os políticos, que poderiam alterar essa conjuntura, apenas
reforçam o posicionamento econômico ao se alinharem ao capital, afinal,
conhecimento é poder. Jack dá exemplos corriqueiros da aplicação científica em
benefício dos homens e tenta defender a cooptação dos políticos pelo mercado,
mas não responde à persistente dúvida da cientista: o que será das gerações
futuras? Já que "os sistemas não encorajam a prevenção, só a intervenção".
O poeta Thomas serve como um mediador nesse debate acerca do
futuro da humanidade e promove a integração do raciocínio científico com a filosofia
na vida mais pragmática. Ele evidencia, sobretudo, a possibilidade de que é
possível alterar a trajetória da humanidade. Thomas é exemplo de alguém que
teve a iniciativa de transformar o curso da própria vida ao abandonar o que lhe
tolhia e buscar o novo; mesmo que não venha a encontrá-lo, a investigação lhe
trouxe a realização de se descobrir.
Sonia entende que uma nova visão de mundo é necessária para
garantirmos o (novo) desenvolvimento e preservarmos a vida na Terra. Apesar de
conceitos tão consolidados como o que os corpos interagem e trocam energia
entre si, a relação desconexa entre a cientista e sua filha Kit denota para a
necessidade de nos desvendarmos para manter o que é importante para nós: a vida.
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