Madrugada
escura. Tormenta e trovões. Doutor Frankenstein trabalha em seu laboratório obcecado
com seu projeto: reanimar tecidos mortos a ponto de encontrar a centelha da
vida. Não encontrou limites para seu objetivo. O fim justificava todos os seus
meios, seja a violação de covas em busca de material orgânico humano, seja o
descaso com a ética científica, seja seu desligamento com vínculos sociais. Sua
mente fora tomada por um frenesi patológico de modo a não descansar até ver seu
experimento concluído. O resultado, porém, fora algo que lhe causou repúdio
imediato: ao contemplar o que havia criado, uma criatura grotesca feita a
partir da somatória de diferentes corpos, mas com força sobre-humana, seu
espírito logo arrefeceu por instantâneo arrependimento. O “monstro” é deixado
ao relento e, apesar de apresentar comportamento inicialmente dócil, é rebaixado
e aviltado pela própria sociedade, voltando-se contra ela.
A história
(não tão fictícia assim) ilustra o descaso e a despreocupação humanas que muitas
vezes nos levam a ansiar pelo advento desenfreado da ciência, sem, contudo, nos
preocuparmos com suas consequências. Auguste Comte e sua corrente filosófica do
positivismo preconizam o “amor por princípio, a ordem por base e o progresso
por fim”, configurando-se como uma extensão da necessidade de ampliar as
fronteiras do conhecimento científico iniciados por Descartes e Bacon. De fato,
sua teoria analisa de modo preciso a construção da ciências nas sociedades. Não
obstante, sua teoria deve ser interpretada com cuidado, sem tomar considerações
extremistas, como ela uma vez servira de embasamento para a dominação
afro-asiática durante o neocolonialismo, por considerar esses povos “menos
desenvolvidos que o homem europeu”.
A busca pela verdadeira ciência despojada de
impressões subjetivas deve respeitar a dignidade humana. O positivismo deve
estar livre de extremismos e sim regado pelo relativismo cultural e pela
consideração da ética, ainda que almeje a imparcialidade e desenvolvimento
científicos. Deve criar uma ciência pura, mas tenha consciência de suas consequências
monstruosas. A humanidade, conforme evidenciado pelas recentes notícias da
descoberta de um planeta com potencialidade de abrigar vida, está prestes a
fazer um possível contato com outras formas de vida. É então que se constata a
necessidade desses cuidados e o direito como regulador desse ímpeto
intelectual, para que evitemos extremismos, “doutores Frankenstein” e “monstros
da ciência”.
Carlos Eduardo Milani Neme - 1º ano de direito matutino (Turma XXXI)
Carlos Eduardo Milani Neme - 1º ano de direito matutino (Turma XXXI)
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