"A democracia em que vivemos é uma democracia
sequestrada,
condicionada,
amputada."
Desde
a antiguidade, a classe dominante procura meios de alienar os explorados, de
forma que estes não adquiram uma consciência de classe e, consequentemente, não
aspirem à tomada de poder. Para isso, sempre se utilizou de um discurso völkisch aliado a uma pretensa
democracia.
Assim
ocorreu com a República Romana, que alegava ser democrática quando, de fato,
era predominantemente demagógica. Para “calar” o povo, utilizavam-se da
política “panem et circenses”, concedendo a ele espetáculos popularescos, que
traziam à tona o id de cada espectador, aliado à distribuição de alimentos. Dessa
forma, criam evitar sublevações populares e garantir a manutenção do poder.
Contudo, a República Romana conheceu seu fim em 27 a.C., contendo em seu âmago
as revoltas populares.
Na
contemporaneidade, com o desenvolvimento dos meios de comunicação, essa
tentativa de alienação não se faz de modo diverso. Na década de 30, por
exemplo, transmitiam-se nos cinemas norte-americanos os “Três Patetas”, exemplo
de comédia pastelão que, mais uma vez, se valia de um discurso völkisch. Ao tentamos estabelecer um
paralelo sobre a criação desse grupo e o momento histórico, percebemos que,
concomitantemente, estava ocorrendo nos EUA o pior colapso econômico do século XX:
a crise de 1929. Assim, é possível concluir que o que via-se nos cinemas era
nada mais do que outra tentativa de alienar os cidadãos. Esses, percebendo
haver gente mais desgraçada, riam e pareciam se conformar com a sua situação.
Não
dissonante da lógica dos “Três Patetas”, encontramos os programas televisivos
da atualidade, tais como “Programa do Gugu”, que nos mostra quadros onde o
apresentador – patrocinado, é claro, por renomadas empresas – ajuda “misericordiosamente”
aqueles que não possuem condições dignas de existência e lhes dá, por exemplo,
uma casa. Em outros quadros e programas, notamos um latente apelo à propaganda völkisch – que desperta nossos piores
preconceitos -, com mulheres seminuas e zombarias a travestis e homossexuais. Isso
sem levar em consideração programas sensacionalistas como “Brasil Urgente”, que
buscam nos fazer acreditar ser o extermínio dos “indesejáveis” a solução para a
criminalidade.
Aliada
a essa estrutura popularesca dos meios de comunicação, encontramos mais uma vez
a pretensa democracia, na qual o Estado utiliza a lógica do “pão e circo” – em
sinal digital! – e dá ao povo condições mínimas para que não pensem em se
rebelar, enquanto seu dinheiro vai para os bolsos – cuecas e maletas – dos detentores
do poder.
Que
democracia é essa na qual vivemos? Rousseau já defendia ser a democracia
representativa ineficaz para expressar a vontade geral. Heller, por sua vez, afirmava
que a democracia atual é, antes de tudo, um meio de dominação e não uma forma
de libertação do Homem, porquanto a única igualdade existente é a formal. Pode
ser nomeado de democracia o poder do povo unicamente de escolher
representantes, enquanto as verdadeiras decisões estão sendo tomadas no âmbito
das organizações internacionais?
Heller,
conquanto, defendia que quando a população percebesse o que ocorre hoje na
democracia, não hesitaria em aspirar ao socialismo. Os dominantes se enganam ao
acreditar que as armas utilizadas por eles com o escopo de legitimar seu poder
não podem ser usadas também pelos explorados.
Assim,
o papel dos formadores de opinião é conscientizar o povo do que está ocorrendo,
utilizando-se para isso das ferramentas burguesas, como os meios de comunicação,
e unir a força de todos os proletários para que haja a tomada de poder. Como já
explicava Marx, isso só ocorrerá quando a burguesia for abertamente a classe
exploradora – para isso a conscientização – e, principalmente, quando houver a
união dos trabalhadores. Portanto, como já diria Marx, “proletários do mundo
todo, uni-vos!”.
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