“Ponto de Mutação”
é uma obra que levanta diversas discussões sobre a forma de
perceber o mundo. De modo provocativo, apresenta, na figura da física
Sonia, uma nova perspectiva que promete solucionar vários problemas
sociais.
Sua proposta é
abandonar a visão Cartesiana/Newtoniana do mundo como uma máquina,
da qual devemos analisar e consertar as peças individualmente, com o
propósito de sanar os males do todo. Ela introduz uma visão
Ecológica/Sistemática da realidade, em que todos os seres e todos
os objetos estão intimamente conectados entre si, na imensa teia de
inter-relações que seria o Universo.
Nesse sentido, ela
acusa os políticos de governar a partir da perspectiva mecanicista
do mundo, que ao tentar resolver alguns problemas, acaba os
aprofundando e criando novos problemas. É inegável que essa
acusação, de modo geral, corresponde à realidade. Mas é ingênuo
e simplista atribuir a culpa aos políticos em si. Deve-se começar
lembrando que os políticos nada mais são que cidadãos que
ascenderam ou buscam ascender ao poder. Dessa forma, os problemas
relacionados aos políticos são, na verdade, relacionados a todos os
cidadãos.
Assim, para
transformar a visão política de mecanicista para sistemática, tal
como é proposto, seria necessário transformar toda a população.
Pois se um grupo políticos instituir mudanças como, usando exemplos
do próprio filme, aumentar a taxação sobre a carne vermelha e o
tabaco para diminuir seu consumo, cuidando, assim, do sistema público
de saúde, a população se posicionará contra ele, e MUITO POUCO
adiantaria seu trabalho, porque em breve subiria ao poder um grupo
que, como espera a população em geral (ávida por resultados
práticos a curto prazo) construa mais hospitais e invista em
cirurgias cardíacas.
Como sugere Jack, o
personagem político, parece que seria necessário um regime
totalitário para por essas ideias sistemáticas em prática, pois as
pessoas não vão aceitar que um homem ou um pequeno grupo político
lhes diga que estão fazendo tudo errado e queira forçar-lhes a ver
o que é certo. Até porque, quem pode dizer a todos o que é certo,
se existem tantas opiniões e nenhuma unanimidade? E quem pode
garantir que essa teoria tão bela não seria, na prática,
desastrosa ou simplesmente corrompida?
Talvez seja possível
tentar, experimentar, pois Edmund Burke adverte que “ninguém
cometeu maior erro que aquele que não fez nada só porque podia
fazer muito pouco”. Acontece que, nesse caso, o “muito pouco”
seria obra de políticos/cidadãos utópicos, que não trabalhem pela
manutenção de seu poder, mas pela manutenção do mundo.
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