René Descartes inovou o pensamento de sua época ao expor, em
sua obra “O Discurso do Método”, uma nova teoria para o caminho científico. O pai do racionalismo defende a fragmentação
do objeto de estudo para o alcance de um conhecimento aprofundado, porém, até
que ponto essa divisão de todas as coisas não influencia no que o cartesianismo
considera verdade?
O filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro de Fritjof
Capra, busca discutir as consequências dessa técnica mecanicista de analisar e
estudar tudo o que está a nossa volta. No filme, um político (Jack), um amigo
poeta (Thomas) e uma cientista (Sonia) argumentam sobre como antigas ideias
filosóficas são atuais ou ultrapassadas. A ideia que ganha destaque é a defendida
pela cientista que, por influência de sua profissão como física, enxerga tudo
como sistemas interligados, capazes de gerar consequências sobre os demais. Tal
ideia mostra-se contrária à proposição de Descartes, que idealizou a divisão de
todas as coisas para analisá-las profundamente.
É fato que Descartes revolucionou a ciência de sua época,
mas tal método mecanicista tem falhas e, como defende a personagem, todos os
sistemas do mundo estão interligados, não só nas ciências naturais, como também
nas humanas e exatas.
Refletindo sobre tal assunto sob a visão das ciências
humanas, o político não consegue desvincular-se de seu prisma pragmático. Vincular
a teoria dos sistemas interligados à sua área de atuação é demasiadamente
complexo por se relacionar com a sociedade, que exige, por meio da turba, ações
práticas para resolver problemas, como se fossem situações isoladas.
Atualmente, é raro deparar-se com situações que são
resolvidas visando às consequências sobre outros sistemas. De fato, o método de
Descartes ainda se mostra atual por seu racionalismo, porém a evolução das
ciências evidenciou que tudo no mundo está interligado, seja na natureza, na
política, na astrologia ou até mesmo nas relações que regem uma sociedade.
Analisar apenas um aspecto de determinado problema é negar atenção a tantos
outros que geram, por consequência, o problema analisado.
É de suma importância que o ser humano busque não só trocar
a peça que está com problema, mas procurar resolver o que está causando tal
contratempo nela.
Dessa forma, os que compreendem que o mundo é composto por vários
sistemas que se interligam, e que ele próprio faz parte de um outro, consegue
ter uma visão holística dos problemas e assim atinge uma reflexão de maior
complexidade. Ao examinar a realidade como um conjunto de sistemas integrados,
e não mais da forma cartesiana fragmentada, é possível analisar melhor as
causas dos problemas e assim solucioná-lo de maneira mais eficaz.
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