Se em algum momento lhe fosse exigido que
descrevesse um ser humano como um todo, você falaria que este ser não passa de
muitas células que formam sistemas que funcionam, na maioria dos casos, de
forma perfeita entre si, sem tentar explicar isso com uma visão mais ampla,
incluindo instintos, história e sentimentos? Muito provavelmente não. Mas
porque então temos uma grande tendência a nos referirmos dessa
forma, muito minuciosa e reducionista, quando se trata de outros organismos ou
objetos?
Vivemos hoje em uma sociedade que
progressivamente se torna mais objetiva, principalmente após a Revolução
Industrial. Um ótimo exemplo dessa transformação é o já batido, porém muito
apropriado para ilustrar-la é o do sapateiro. O sapateiro antes da revolução era
um mestre da confecção do sapato, sabia cortar, costurar, lustrar e tudo que
envolve o processo. Conforme o mercado se tornava mais exigente o mestre se viu
obrigado a dividir seu trabalho para aumentar seu poder de competição. Com isso
o processo se tornou cada vez menos específico, ao passo que já não se conseguia
acompanhar o processo como a fabricação de um calçado, e sim várias pessoas
realizando trabalhos manuais muito simples.
Entretanto, e se pensarmos nesta situação de
forma mais ampla? E se transferirmos este reducionismo para o meio ambiente,
por exemplo? Uma grande floresta não é mais vista como um só “organismo com
vida própria”, tão explorado no filme “Ponto de Mutação”, e sim como uma série de
organismos constituídos de matéria prima, que pode ser utilizada para produzir
novos bens de consumo.
Obviamente não podemos ser hipócritas,
negando a inegável (perdoando a redundância) importância e benefícios da
Revolução Industrial, ou da próprio reducionismo, que proporcionou grande
avanço para a humanidade. Porém devemos zelar pela manutenção do sentimento que
existe entre nós, desde tempos muito inóspitos, de que de alguma forma fazemos
parte de um organismo próprio, para que, quem saiba, um dia possamos realmente
vislumbrar o funcionamento deste organismo de que fazemos parte.
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