ENTRE DÉSCARTES, BACON, SARTRE
E CAMUS
Produzido no começo dos anos 90,
período no qual a reflexão referente às implicações éticas da ciência estava na
sua infância, sobretudo no campo da genética, assim como a preocupação global com
a preservação ambiental , o filme apresenta duas visões principais acerca do
uso e da função da ciência. A visão cartesiana sugere o homem como senhor da
ciência , de forma que essa seja uma
ferramenta para o desenvolvimento em seu âmbito tecnológico, econômico e
social.Essa visão , portanto, defenderia
a evolução contínua e não ponderada do material inanimado , desde que
trouxesse benefícios concretos à
humanidade.Se a visão cartesiana, apresentada primeiramente no filme seria a
tese, a visão holística , então , seria sua antítese. A antítese, consequentemente
, questiona o parâmetro estritamente utilitarista e positivista empregado por
aqueles que controlam e influenciam as
pesquisas cientificas mais significativas.Nesse argumento, dever-se-ia examinar
profundamente as implicações sociais,éticas e não materiais da ciência como
agentes de transformação e de suas transformações decorrentes de seu processo.
No entanto, é por meios
cartesianos que os oradores dos lados filosoficamente antagônicos se encontram.
Apesar de discórdias de valores quase que irremediáveis, os espectros distantes
se encontram em uma síntese, bem ao estilo cartesiano. A síntese, reconhecida
por ambos os argumentos, sustenta que um novo padrão de ciência deveria ser
idealizado, um que indicaria novos caminhos de equilíbrio, de sustentabilidade e
de harmonia entre a necessidade do desenvolvimento econômico e a as conseqüências
ao homem e seu ambiente sujeitos da ação antrópica. O filme, nesse ponto específico,
revela sua falha estrutural. Embora a visão alternativa ao pensamento cartesiano
proposto nos diálogos seja relativamente coesa, ela é imprecisa por não conseguir
traduzir teorias de mudança em propostas efetivas de realização. Sendo assim,
por mais que a visão da personagem feminina considere boa parte das dúvidas existências
e científicas do homem, falta-lhe instrumentos de praticidade. Assim, a síntese
entre a visão cartesiana e a visão holística da personagem feminina é superior,
uma vez que um novo modelo de ciência e sociedade sem proposta efetiva de
aplicabilidade torna-se ideologia.
O filme, então, abre as portas
cognitivas dos curiosos intelectuais e propõe discussões calorosas e provocadoras
para aqueles que tenham condições de enfrentar as fronteiras da existência humana
e da ciência. Obra fundamental para
apreciadores de Sartre e de Camus; pela superfície vê-se entretenimento, no seu
núcleo, filosofia e existencialismo na sua forma pura.
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