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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Quarentena. Dia 31.

  Acordo. De novo. Realmente não aguento mais permanecer aqui. Esse era considerado meu ano de sorte, o ano em que eu iria para a academia, comeria menos açúcar e leria livros clássicos e intelectuais. Claramente, isso não aconteceu. Mas, por mais impressionante que possa parecer, não foi devido a minha grandiosa incompetência em dar continuidade a promessas de Réveillon. Uma pandemia assolou o planeta Terra. Exato, como aquelas de filmes utópicos. Só que na vida real, no meu momento histórico. Comércios estão fechados, hospitais não possuem mais leitos, corpos, amontoados deles, estão sendo empilhados em frigoríficos e enterrados por profissionais com aquelas roupas representadas em cenas de guerra biológica. Há muitos mortos e muito medo. E é até difícil, para mim, imaginar como algo invisível como um vírus possa trazer efeitos tão aparentes e gigantescos assim. Contudo, acredito que qualquer um possa perceber que para alguns é especialmente mais complexo. E desejará que noção não estivesse na lista dos itens em falta no país.
  Sim, eu concordo, a duvida é fundamental para o desenvolvimento científico. Descartes afirmava que era necessário nunca aceitar algo como verídico até que não se encontrasse motivo algum para duvidar dele. O próprio, como escreveu em seu livro, primeiramente "rejeitava tudo como falso" e, assim, dava continuidade a sua pesquisa, provando o que fosse verdadeiro sem interferência de seus sentidos.
  Entretanto, esse filósofo não esperava que 383 anos após a primeira publicação do famoso "Discurso do Método" sua ideia seria deturpada e utilizada para justificar teorias da conspiração, constatações pseudocientíficas e ataques a sérias instituições produtoras de conhecimento. Para se ter noção da calamidade, um vírus mortal foi dado como "apenas uma gripezinha", e seu combate associado ao comunismo. Logo após, um remédio sem eficácia comprovada foi exaltado por uma personalidade sem formação na área da saúde e a oposição da classe médica a essas declarações foi considerada como alienação da esquerda política. Para completar, brasileiros foram vistos como imunes ao novo coronavírus por "pularem em esgoto", sem a mínima preocupação dos governantes frente ao descaso sanitário que algumas parcelas da população são submetidas. E tudo isso devido a dúvida na ciência e em suas constatações, mesmo que provadas.
  Mas até as provas são passíveis de dívida, correto? Como saber que não são manipuladas? Creio que por essas Descartes realmente não esperava.
  O que muitos não compreenderam é que a dúvida para o aprimoramento científico não diz respeito a desacreditar de tudo o que já foi produzido, mas de suas próprias convicções. Significa estar liberto de suas crenças individuais a fim de buscar a verdade. Como afirmado por Francis Bacon, as antecipações da mente são base para o senso comum e, para que a ciência floresça, os ídolos devem ser abandonados, pois distorções causadas pelos sentidos, paixões, vivências e relações pessoas, por exemplo, geralmente culminam em falsas teorias. Como essas.
  Bem... O que tenho para concluir é que, após trinta e um dias, treze horas e vinte e três minutos no que parece uma adaptação de um livro futurista, realmente não aguento mais. E é mesmo inacreditável estar no meio de uma pandemia causada por algo invisível. Mas, as constatações dos cientistas brasileiros inseridos, majoritariamente nas atacadas universidades públicas do país, não o são.

Marina Colafemea- 1⁰ ano Direito - noturno

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