A ciência sempre teve como principal foco a construção do
conhecimento pautado na compreensão dos fenômenos e nas experiências, é ela que
tem o intuito de ir além das crenças e saber como as coisas realmente são, é a
partir das pesquisas produzidas pela ciência que o ser humano atualmente supre
uma necessidade que Aristóteles já afirmava;
“Todo homem deseja naturalmente saber”, ou seja, a necessidade de
entender. É importante considerar no momento atual, que em todos os reveses na
história da humanidade, a ciência sempre esteve presente como forte aliada a
fim de se resolver os problemas, a exemplo de meados de 1900 quando o médico e
cientista Oswaldo Gonçalves Cruz, teve que realizar no Brasil uma campanha
sanitária de combate às principais doenças da capital; febre amarela, peste
bubônica e varíola. No contexto da época, os órgãos públicos foram extremamente
necessários na ajuda ao combate das doenças, Oswaldo utilizou principalmente o
Instituto Soroterápico Federal como base de apoio técnico-científico para a
realização de campanhas de saneamento, e em poucos meses os índices das doenças
diminuíram. O médico enfrentou diversas reações populares que desacreditavam da
ciência, contudo as pesquisas e as ações públicas produzidas por Oswaldo se
mostraram extremamente eficazes para conter as epidemias.
Hoje, o mundo enfrenta uma pandemia, o Covid-19 já matou
cerca de 1.532 pessoas no Brasil e mais de 110.000 no mundo, e mais uma vez a
ciência aponta-se como a principal chance de conter o cenário de calamidade. De
acordo com o pensamento científico, as medidas de isolamento social são a maior
via, por enquanto, para conter o aumento no número de casos do corona vírus,
sendo que já se mostrou eficiente em outros países. Entretanto, como já
demostrado acima, não é de hoje que as pessoas duvidam da ciência. O direito a
liberdade de expressão, de não acreditar, de questionar é um direito individual
a qual todos os cidadãos possuem, e são a base para um estado democrático.
Todavia, a partir do momento em que se vive em sociedade, as responsabilidades
são coletivas e não individuais, portanto, um ato que uma pessoa tenha de
quebrar o isolamento social, por não acreditar nas palavras dos médicos, pode
colocar em risco não apenas a vida dela como também a de outros cidadãos, logo,
utilizar a liberdade de expressão como pretexto para contrariar dados
científicos é ilegítimo, pois contestar a ciência agora é agir irracionalmente,
é não visar o bem coletivo, e acima de tudo, é não ter uma posição democrática
com a sociedade e sim uma posição egoísta e individualista.
Ao analisar as bases do pensamento moderno, Francis Bacon,
filósofo empirista, propôs o conceito de “ídolos”, ou seja, falsas noções da realidade
que impedem o acesso a verdade. Analogamente ao pensamento de Bacon, os discursos
sobre essa situação de calamidade realizados pelo presidente da república, Jair
Bolsonaro, que influenciam parte considerável da população brasileira, se aproximam
do conceito de “ídolos”, haja vista que as declarações feitas pelo presidente
não tem fundamento cientifico, muito pelo contrário, seus discursos menosprezando
os efeitos do corona vírus, foram encarados como uma ameaça a saúde pública
pela Organização Mundial da Saúde. Nesse
contexto, ainda é valido lembrar que Descartes, filósofo racionalista,
acreditava que a razão, ou seja, o bom senso, é uma propriedade intrínseca ao
ser humano e por isso as pessoas conseguiam determinar o que é certo e errado. A
população mundial precisa, nesse momento, usar da razão e se questionar se
seus atos estão de acordo com o bom senso e se estão tendo uma posição democrática diante a
pandemia.
Basta olhar outros episódios na história, não é surpresa que
as pessoas acham que a ciência não é importante, talvez isso seja um reflexo da
falta de instrução da população, ou uma consequência da elitização da ciência
no Brasil. Entretanto, foi a própria ciência que salvou a maioria das crises na
história da humanidade e apesar do governo brasileiro não incentivar a
população a acreditar nas pesquisas, são elas juntamente com os pesquisadores, “a
balbúrdia”, que mais uma vez são a esperança do mundo, é preciso diante desse
cenário que a população passe a viver sob as luzes da razão e não caia em
palavras falaciosas de quem não tem uma visão humanista.
Maria Clara Ramos Okasaki - Diurno - 1ºano Direito
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