Em “O discurso do método”, Descartes demonstra a problemática de se ter uma opinião considerada “certa” sobre tudo, e
evidencia o problema de se acreditar cegamente em tudo o que lê e ouve,
tentando estimular a dúvida nas pessoas para que questionem o que lhes é dito.
Um caso recente no mundo, com a pandemia do Covid-19, foi o prefeito de Milão
criar a campanha "Milão não para", sem acreditar na ciência e no
risco que estava por vir. Os cidadãos confiaram em seu governante. Hoje, a
Itália já ultrapassa os 20 mil mortos e mais de 170 mil infectados pelo novo
coronavírus, segundo o G1. Alguns dias depois do número de vítimas pela doença
aumentar no país, o prefeito transmitiu sua mensagem de arrependimento, pedindo
desculpas a todos os cidadãos por colocá-los naquela situação de perda de
diversos familiares e amigos, além de arriscar suas vidas.
No entanto, a problemática não parou em um único país.
Mesmo tendo o exemplo dos italianos, há uma dificuldade entre alguns
brasileiros de compreender a necessidade do isolamento social proposto pelo
Ministério da Saúde, que segue diretamente as orientações da Organização
Mundial da Saúde. Muitos tem se manifestado contra a ciência, incluindo o
Presidente da República, Jair Bolsonaro, com a justificativa de que a
quarentena prejudicou a economia. Bolsonaro, no dia 16/04/2020, chegou a
demitir o ministro Luiz Henrique Mandetta por este não seguir as ordens do
chefe de mandar relaxar a quarentena a fim de voltar a girar a economia abrindo
os comércios, sendo inclusive acusado de “virar estrela”.
Descartes escreve, metaforicamente, sobre a busca do conhecimento,
ao qual o indivíduo deve estar aberto psicologicamente para enfrentar seus erros
e acertos. Dessa forma, percebe-se mais uma vez a dificuldade do presidente da
república do Brasil em aceitar que está errado quando não segue a ciência, e,
sim, sua própria vontade, passeando pelas ruas de Brasília, aglomerando seus apoiadores,
cumprimentando-os, apoiando manifestações a seu favor, e deixando de seguir
todas as recomendações da OMS e de todos os médicos que estão na linha de
frente do mundo inteiro. Eis um indivíduo que não está aberto para enfrentar
seus erros, sempre em busca da tão famosa politicagem mesmo em meio a uma
pandemia. Ao observar tudo o que Bolsonaro faz e manda fazer, muitas pessoas defendem
a ideia de que ele não está em suas condições psíquicas normais. Por outro lado,
muitos bolsonaristas continuam o apoiando cegamente e concordando com tudo,
inclusive fazendo carreata em frente a um hospital de São Paulo.
Com isso, fica o questionamento: vale a pena ir de encontro
à ciência? será que o fazer
política, a preocupação com a economia acima da saúde da população brasileira,
são as maiores importâncias hoje? Acabar com o isolamento social no
período mais difícil da pandemia no país é a forma mais viável de lidar com o
problema? Segundo a ciência, para todas as perguntas, não. A busca da
razão, da verdade, não é um método aceito por muitos governantes capitalistas
neste momento, pois estes pensam em suas perdas economicamente, mas o fato é que
pessoas mortas não fazem parte do mercado de trabalho. A única certeza é que
devemos valorizar vidas antes de dinheiro, pois, como disseram diversos
prefeitos e governadores, não só do Brasil, mas também nos Estados Unidos, a
economia a gente recupera, as vidas, não. Fique em casa.
Ana Carolina Costa Monteiro de Barros - Direito noturno - 1º semestre
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