A Teoria da Evolução das espécies,
desenvolvida pelo naturalista inglês Charles Darwin, causou um enorme impacto
na sociedade da época ao ser publicada. Ao demonstrar que a existência e a
perpetuação de uma determinada espécie se dava por uma melhor adaptabilidade, determinada
por eventos aleatórios, Darwin quebrou diversos paradigmas. Sua teoria confrontava
o pensamento religioso da época (criacionismo), o otimismo exacerbado com o
qual a sociedade enxergava a ciência (cientificismo) e até mesmo o
antropocentrismo, principalmente quando se constata que o ser humano esteve
sujeito a Seleção Natural tanto quanto as demais espécies que habitavam a
Terra. Ao desbancar diversas maneiras de se pensar o mundo, as ideias
darwinistas foram vistas como uma ameaça por setores mais conservadores de
diversas sociedades pelo mundo. Um exemplo foi o julgamento de Scopes (formalmente conhecido como The
State of Tennessee v. John Thomas Scopes), considerado um marco na história
jurídica norte-americana ocorrido em 1925, e que pôs a prova a Lei Butler (Butler
Act, em Inglês), uma lei do Tennesse que estabeleceu que era ilegal em
todos os estabelecimentos educacionais do estado, "o ensino de qualquer
teoria que negue a história da criação divina do homem como é explicado na
Bíblia e substitui pelo ensino de que o homem descende de uma ordem de animais
inferiores". Esse exemplo ilustra que confrontar determinadas formas de pensamento
já bem estabelecidas - como ocorreu com a “ciência” predominante no momento
pré-seleção-natural - com outras que possam surgir, quando comprovadas
cientificamente, podem trazer benefícios para a humanidade. Porém, é
preciso ressaltar que a recíproca é verdadeira.
Atualmente,
há diversas pessoas na sociedade que questionam determinadas “verdades
absolutas” de diferentes formas: há os terraplanistas e o movimento antivacina,
por exemplo. A atuação de ambos os movimentos tem como base duas
características: o ceticismo e o ato de desafiar a autoridade já estabelecida.
Esses princípios básicos poderiam ser compreendidos como virtudes científicas,
porém, o grande problema é que esses grupos não compreendem o real
funcionamento do método científico e optam em distorcê-lo para chegar a
conclusões falsas que legitimem suas teorias.
Dessa
forma, é preciso que relembremos que para comprovarmos ou negarmos determinado
fenômeno, é necessário que ele seja analisado obedecendo o método cientifico.
De acordo com “O discurso do método”, obra escrita por René Descartes, esse
método é divido em alguns passos: o observador analisa as evidências coletadas,
suspendendo seu juízo. Em seguida ele as analisa dividindo as partes que as
compõe, para que se tenha uma maior acuidade. Depois, ele faz uma síntese,
reunindo do mais simples ao mais complexo e, finalmente, as enumera,
verificando possíveis omissões. Caso o fenômeno analisado passe por esse crivo
cientifico, ele é compreendido como uma verdade científica.
No
cenário atual, a partir da disseminação do vírus Sars-CoV-2,
causador da pandemia de covid-19, vários questionamentos foram feitos a
respeito da natureza desse patógeno, além das suas inevitáveis implicações nos campos
políticos e sociais ao redor do planeta. A saída mais fácil para enfrentarmos
essa crise, de acordo com a ciência, é a adoção do isolamento social, uma estratégia
que visa reduzir o contato social entre pessoas para reduzir o espalhamento do
novo coronavirus, evitando assim um colapso dos sistemas de saúde de diferentes
países e, consequentemente, um elevado número de mortes. No entanto, há pessoas
que questionam essa estratégia.
No
Brasil, o caso mais notável a respeito da tentativa de descredibilizar o
isolamento social partiu do Presidente da Republica Jair Messias Bolsonaro. Conforme
publicado pelo jornal estadunidense The New York Times, o "presidente Jair Bolsonaro, que chamou o vírus de ‘uma
gripezinha’, é o único ‘grande’ líder mundial que continua questionando os
méritos das medidas de bloqueio para combater a pandemia”. Sua postura
negacionista acabou legitimando constantes manifestações contrarias as
quarentenas ao redor do país, o que pode comprometer gravemente, em médio e
longo prazo, a eficácia de combate ao Sars-Cov-2, já que essas manifestações
acabam causando aglomerações, prejudicando essa única estratégia conhecida
atualmente para frear a pandemia em nosso país. Assim como no caso do
terraplanismo e do movimento antivacina, os argumentos científicos dos adeptos
ao “fim da quarentena” são falsos. Um exemplo é a própria declaração de
Bolsonaro de que não deveria haver tanta preocupação em relação ao novo
coronavirus porque esse patógeno não causaria mais do que uma “gripezinha”
quando, no entanto, a sua letalidade, de acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), é dez vezes mais letal que a ultima pandemia que assolou a humanidade,
a gripe A (H1N1).
Portanto,
o confrontamento da ciência deve ser um direito assegurado a todos, garantido,
inclusive, pelo direito da liberdade de expressão. Porém, é preciso confrontar
pensamentos científicos utilizando o método cartesiano cuidadosamente, caso isso
não ocorra, podemos chegar a situações extremas, como a propagação de pensamentos
pseudocientíficos por autoridades, conforme ocorrido no passado durante o julgamento
de Scopes e atualmente no desenrolar da pandemia mundial de covid-19, podendo legitimar
a criação de políticas públicas baseadas em mentiras e, por consequência,
resultando em danos irreversíveis ao tecido social.
DIOGO PERES TEIXEIRA – 1º ANO DIREITO MATUTINO
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