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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Direito, ciência e poder em meio a hodierna crise epidêmica e ideológica

O corona vírus não é uma questão isolada, dado a sua dimensão e proliferação em escala global, e, infelizmente, pode se dizer o mesmo da ignorância, haja vista que em relação a ambas vive-se um contexto delicado e de nível crítico. Todavia, enquanto uma se concentra na anatomia humana e seu acometimento físico, a outra atua no campo das chamadas doenças ideológicas, sendo dessa forma tão prejudicial quanto a primeira. Nesse sentido, faz-se necessário analisar os impactos e resoluções acometidas pelas novas conjunturas de polarização política – fenômeno crescente na última década e que remota os cenários de disputas da Guerra Fria – diante dos impasses gerados pela disseminação do vírus.
A princípio, se os precursores da ciência moderna, pudessem olhar para atual presente, certamente se chocariam com as diversas inovações tecnológicas desenvolvidas, entretanto, similarmente ficariam surpresos com os eloquentes “ídolos” existentes, tal qual diria Francis Bacon,  em constraste a um mundo tão rodeado pelo progresso científico. Desse modo, há de se perguntar se evoluímos tanto assim na “perseguição” contra a ciência quanto as suas colocações e estudos – dados como heresias alguns séculos atrás na Inquisição –, uma vez que se observam diversos movimentos questionadores que minimizam, relativizam e confrontam seu papel na contemporaneidade. Consequentemente, nota-se aí a dicotomia do direito à liberdade de expressão frente a essa hodierna problemática a julgar que mesmo sendo base para as ciências pós-iluministas, essa também pode ser usada para refutar conhecimentos já consolidados.
Ademais, a situação piora frente a crise que se enfrenta devido a COVID-19 (popularmente mais conhecida como Corona Vírus), porque mais do que nunca, vários grupos questionam as verdades científicas pautando-se em opiniões ditas como absolutas. Como se não bastasse, ainda convive-se com os “conspiradores” que indagam se, realmente, tal epidemia não é uma fraude de Estados que tentam assumir a hegemonia mundial na luta pelo poder – vertente bastante aceita pelos nacionalistas estadunidenses – ou que se trata de tentativas golpistas de partidos políticos contrários às ideologias dos governos vigentes para prejudicar sua imagem, sendo esse último argumento frequente entre os defensores do presidente Jair Bolsonaro no Brasil. Além de totalmente inscientes, a difusão de tais conceitos através dos meios de comunicação com possíveis curas milagrosas, falsas informações e notícias, desumanizam as vítimas fatais, colocando-as apenas como meras estatísticas de uma mídia dita por eles duvidosa e manipuladora.
É imprescindível, outrossim, a relevância dos crescentes antagonismos políticos verificados, que estreitam a linha tênue entre a extrema direita e a radical esquerda, sendo a primeira predominante nas democracias, fruto do que resultaram as últimas eleições em muitas nações. Isso se justifica porque diante das medidas de enfrentamento do corona vírus – na qual a Organização Mundial da Saúde e cientistas do mundo todo recomendam o estado de quarentena afim de evitar um caos global –  líderes conservadores insistem na manutenção da economia em detrimento da potencialidade da doença, até mesmo apoiando publicamente declarações para o retorno normal das atividades de seus países. Pode-se citar a exemplo, o caso do prefeito da cidade italiana de Milão, o qual lançou campanhas contra o isolamento social sob bandeira do progresso contínuo, tendo como sequela nacional o maior número de mortes pelo vírus na Europa inteira. 
Torna-se enfático que a crise da COVID-19 é propulsora e catalisadora de outras diversas crises, e certamente, a que se torna mais evidente é o açoite do neoliberalismo, devido ao esfacelamento econômico dos meios de produção diante ao ócio da necessária quarentena. Com isso, surgem e reiteram-se linhas de pensamento ignorantes que, na urgência de soluções, buscam salvar suas próprias ideologias, não importando ser seu conteúdo totalmente racional e científico, incitando manifestações públicas em meio a um momento nada propício para aglomerações e protestos desse cunho, dada a gravidade do vírus e a insuficiência dos sistemas de saúde absorverem todos os casos de maneira eficiente. Desse modo, pelo que constata, a ciência só será de fato respeitada quando um de seus principais preceitos, a seleção natural, começar a atuar incisivamente perante os incrédulos da pandemia, e estes perceberem que a mesma não é somente uma “gripezinha”.

Luana Lima Estevanatto – Direito Matutino 1° ano

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