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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Da Luz às trevas

É notório que a base do pensamento científico moderno utilizado até os dias de hoje se estruturou durante a chamada Revolução Científica do século XVI ao século XVIII com os questionamentos e teorias de diversos pensadores e cientistas da época a respeito do que seria a ciência e qual seria o seu papel no entendimento do mundo das ciências naturais. Nesse sentido, foram criados modelos para se comprovar verdades científicas da maneira mais sistemática possível, evitando assim que o senso comum ou que inverdades pudessem gerar informações ou comprovações falsas.
Em consonância a esse pensamento, percebe-se hoje a grande contribuição de tais modelos para os mais diversos campos do conhecimento humano. Dentre eles, há de se destacar o da saúde, tendo em vista que com os inúmeros avanços que se deu nessa área por meio da adoção de etapas extremamente metódicas e rígidas antes de se concluir qualquer coisa que fosse, houveram inúmeras contribuições para a saúde dos seres humanos de modo geral, como vacinas, remédios e até mesmo a cura de enfermidades antes tidas como mortais, tal como a tuberculose. Dessa maneira, evidencia-se a importância dos métodos oriundos do pensamento científico e do próprio fazer ciência como forma de se atingir um conhecimento seguro.
De maneira comparativa a essa noção, e analisando o contexto mundial atual da pandemia de covid-19 em que o Brasil se encontra, percebe-se, no entanto, um descrédito por parte da sociedade brasileira na ciência e principalmente nas medidas preventivas impostas pelo Ministério da Saúde (MS), orientadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com validação científica, para se evitar um possível colapso do sistema de saúde e um grande número de mortes por essa nova doença.
É evidente que o fato do presidente da República Federativa Brasileira, autoridade máxima e representante do povo, minimizar e questionar as medidas adotadas pelo MS, produzindo aglomerações ao andar por Brasília sem máscara e dando declarações em rede nacional como as de que a covid-19 é apenas uma “gripezinha” ou ainda incitando que um medicamento, a cloroquina, seria a solução para o tratamento do coronavírus (apesar do número de mortes em outros países e inclusive no Brasil associadas a cloroquina e as poucas evidências científicas de que se tem sobre a eficácia do remédio no combate ao vírus), acabam por alimentar a descrença na ciência, tornando-se empecilhos para a solução da crise da covid-19 no Brasil.
Tais falas legitimam a saída de grupos pró-bolsonaristas nas ruas, aumentando a circulação e contato entre as mais diversas pessoas e, consequentemente, elevando a probabilidade de elas serem infectadas pelo novo coronavírus, colocando em risco, assim, não só a sua saúde como também a de seus familiares.
Além disso, a recente demissão do ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta no meio da crise enfrentada e mesmo com o alto índice de reprovação por parte da população brasileira (64% segundo pesquisa da Folha), demonstra o despreparo e até mesmo um senso de imaturidade do presidente brasileiro que ao invés de conduzir a crise do coronavírus ao lado do MS e da ciência, combatendo a doença e resguardando a saúde da população em primeira instância, se opõe a elas, defendendo apenas a natureza econômica da crise.
É digno de nota sim a questão econômica a que Jair Bolsonaro se refere, contudo se não fosse as medidas de isolamento social adotadas por Mandetta e pelos governadores, o cenário brasileiro estaria, muito provavelmente, pior do que o atual, como demonstrava estimativas do Instituto Butantan e da Universidade de Oxford no Reino Unido. Ademais, quanto a essa questão ainda, é sempre bom lembrarmos que o dever de um Governo eleito democraticamente é o de representar o seu povo, visando o bem comum. Logo, em tempos de ameaça a vida da população (um direito fundamental), cabe ao Estado intervir: tanto ao conceder auxílios financeiros e isentar impostos e pagamentos de contas de luz e água para populações socialmente vulneráveis, quanto impedir demissões ao conferir auxílios as empresas, assim como está sendo feito pelo Auxílio Emergencial, por governos estaduais e pela linha de crédito às pequenas e médias empresas, respectivamente.
Desse modo, diante da comprovação científica da eficácia do isolamento social para a diminuição da gravidade da covid-19 e sendo dever do Governo resguardar os direitos fundamentais de sua população, no caso fornecendo meios para que a população se sustente para que assim pensem em sua saúde em primeiro lugar, é imprescindível que continue se questionando os pedidos pelo fim da quarentena por Bolsonaro e seus simpatizantes, de modo que caso sejam acatadas antes do pico de infecção do Brasil, elas realmente poderão contribuir positivamente para a economia do país, porém com um custo em números para os brasileiros. Em números de vidas.
      
André Luiz Gonçalves Primo - 1º Ano Direito Matutino

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