É
notório que a base do pensamento científico moderno utilizado até os dias de
hoje se estruturou durante a chamada Revolução Científica do século XVI ao
século XVIII com os questionamentos e teorias de diversos pensadores e
cientistas da época a respeito do que seria a ciência e qual seria o seu papel
no entendimento do mundo das ciências naturais. Nesse sentido, foram criados
modelos para se comprovar verdades científicas da maneira mais sistemática
possível, evitando assim que o senso comum ou que inverdades pudessem gerar
informações ou comprovações falsas.
Em
consonância a esse pensamento, percebe-se hoje a grande contribuição de tais
modelos para os mais diversos campos do conhecimento humano. Dentre eles, há de
se destacar o da saúde, tendo em vista que com os inúmeros avanços que se deu
nessa área por meio da adoção de etapas extremamente metódicas e rígidas antes
de se concluir qualquer coisa que fosse, houveram inúmeras contribuições para a
saúde dos seres humanos de modo geral, como vacinas, remédios e até mesmo a
cura de enfermidades antes tidas como mortais, tal como a tuberculose. Dessa
maneira, evidencia-se a importância dos métodos oriundos do pensamento
científico e do próprio fazer ciência como forma de se atingir um conhecimento
seguro.
De
maneira comparativa a essa noção, e analisando o contexto mundial atual da
pandemia de covid-19 em que o Brasil se encontra, percebe-se, no entanto, um
descrédito por parte da sociedade brasileira na ciência e principalmente nas
medidas preventivas impostas pelo Ministério da Saúde (MS), orientadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), com validação científica, para se evitar um
possível colapso do sistema de saúde e um grande número de mortes por essa nova
doença.
É
evidente que o fato do presidente da República Federativa Brasileira,
autoridade máxima e representante do povo, minimizar e questionar as medidas
adotadas pelo MS, produzindo aglomerações ao andar por Brasília sem máscara e
dando declarações em rede nacional como as de que a covid-19 é apenas uma
“gripezinha” ou ainda incitando que um medicamento, a cloroquina, seria a
solução para o tratamento do coronavírus (apesar do número de mortes em outros
países e inclusive no Brasil associadas a cloroquina e as poucas evidências
científicas de que se tem sobre a eficácia do remédio no combate ao vírus),
acabam por alimentar a descrença na ciência, tornando-se empecilhos para a
solução da crise da covid-19 no Brasil.
Tais
falas legitimam a saída de grupos pró-bolsonaristas nas ruas, aumentando a
circulação e contato entre as mais diversas pessoas e, consequentemente,
elevando a probabilidade de elas serem infectadas pelo novo coronavírus,
colocando em risco, assim, não só a sua saúde como também a de seus familiares.
Além
disso, a recente demissão do ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta no meio
da crise enfrentada e mesmo com o alto índice de reprovação por parte da
população brasileira (64% segundo pesquisa da Folha), demonstra o despreparo e
até mesmo um senso de imaturidade do presidente brasileiro que ao invés de
conduzir a crise do coronavírus ao lado do MS e da ciência, combatendo a doença
e resguardando a saúde da população em primeira instância, se opõe a elas,
defendendo apenas a natureza econômica da crise.
É
digno de nota sim a questão econômica a que Jair Bolsonaro se refere, contudo
se não fosse as medidas de isolamento social adotadas por Mandetta e pelos
governadores, o cenário brasileiro estaria, muito provavelmente, pior do que o
atual, como demonstrava estimativas do Instituto Butantan e da Universidade de
Oxford no Reino Unido. Ademais, quanto a essa questão ainda, é sempre bom lembrarmos
que o dever de um Governo eleito democraticamente é o de representar o seu
povo, visando o bem comum. Logo, em tempos de ameaça a vida da população (um
direito fundamental), cabe ao Estado intervir: tanto ao conceder auxílios
financeiros e isentar impostos e pagamentos de contas de luz e água para
populações socialmente vulneráveis, quanto impedir demissões ao conferir
auxílios as empresas, assim como está sendo feito pelo Auxílio Emergencial, por
governos estaduais e pela linha de crédito às pequenas e médias empresas,
respectivamente.
Desse
modo, diante da comprovação científica da eficácia do isolamento social para a
diminuição da gravidade da covid-19 e sendo dever do Governo resguardar os
direitos fundamentais de sua população, no caso fornecendo meios para que a
população se sustente para que assim pensem em sua saúde em primeiro lugar, é
imprescindível que continue se questionando os pedidos pelo fim da quarentena
por Bolsonaro e seus simpatizantes, de modo que caso sejam acatadas antes do
pico de infecção do Brasil, elas realmente poderão contribuir positivamente
para a economia do país, porém com um custo em números para os brasileiros. Em
números de vidas.
André Luiz Gonçalves Primo - 1º Ano Direito Matutino
Nenhum comentário:
Postar um comentário