Com
seus primeiros registros em dezembro de 2019 na cidade chinesa de Wuhan, o novo
tipo de Corona Vírus, o Sars-CoV-2, espalhou-se em torno do globo em questão de
meses e causou uma crise de saúde alastrada. Não obstante, os impactos da pandemia
puderam ser observados também na esfera político-social. Nesse cenário, a
conjuntura brasileira destaca-se por um evidente descaso por parte do governo
na figura do presidente da República Jair Bolsonaro, levantando como
questionamento os limites do direito de confrontamento à ciência – à medida que
essa se apresenta como o principal pilar para o enfrentamento da epidemia do
vírus.
Existe
uma relação estreita e tênue entre o ato de questionar a ciência em seus
procedimentos e resultados e desmoralizá-la enquanto instituição que produz
conhecimento. Ao passo que a ciência é necessária e vital para lidarmos com a
situação em que vivemos, é preciso atribuir a ela critérios a fim de promover a
sua própria eficiência. A exemplo dessa situação, compreende-se os estudos
duvidosos do médico francês Ph.D. em doenças infecciosas Didier Raoult a
respeito do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e a fala do
infectologista francês Luc Montagnier, prêmio Nobel de Medicina, acusando
laboratórios chineses de terem produzido o vírus em busca da vacina para o HIV
sem a apresentação de qualquer estudo científico que comprovasse sua afirmação.
Nesses dois casos, a credibilidade dos currículos por trás desses nomes inflama
suas constatações e promove teorias conspiratórias e falsas expectativas sob o
ideário coletivo de uma população posta em condição de pânico. Uma vez que os
estudos de Raoult são contestados por outros cientistas e a fala de Montagnier
é refutada por estudos como uma “análise equivocada”, prova-se que é preciso
questionar as informações provenientes do meio científico antes de atestá-las
midiaticamente como fatos irrefutáveis.
Entretanto,
enfatiza-se que esse confrontamento supramencionado não pode ser confundido com
a desmoralização. Atitudes por parte do Governo Federal, como a exoneração do
presidente do CNPq após esse pedir por mais verba para a realização de
pesquisas e mais autonomia para a entidade, demonstram um claro obscurantismo
predominante na visão e interpretação do presidente. Tal fato não o distancia
daquilo que ele já manifestava durante sua candidatura e o passado ano de
governo, porém atualmente, no meio de uma pandemia, torna-se nocivo à saúde
pública e coloca vidas imediatamente em risco. Se, sobre a demissão do então
ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta, Bolsonaro diz que esse “olhava
exclusivamente para a questão da vida” e isso não “afinava com a ideia do
presidente”, fica cristalino que o posicionamento do governo não é evitar que
pessoas morram em decorrência da Covid-19 – à proporção que seu protesto contra
isolamento social promove justamente a difusão do vírus que afeta
principalmente populações mais vulneráveis.
Portanto,
é notável que o equívoco, proposital ou não, entre os atos de questionar e banalizar
a ciência leva a população ao seu respectivo colapso. A importância do conhecimento
científico no combate à disseminação do Sars-CoV-2 destaca a periculosidade em
discursos políticos anticientificistas ao mesmo tempo que evidencia a fragilidade
da civilização perante a falta de informação endossada em experiências fidedignas.
Entretanto, o direito de confrontar a ciência é necessário para assegurar sua
própria credibilidade conforme essa é utilizada como escudo por nomes
habilitados em prol das suas respectivas imagens perante a mídia global. Se
para Machado de Assis, consagrado escritor brasileiro, a política torna-se uma especulação
quando não parte de uma vocação, espelha-se a condição à ciência – que, mediante
o contexto sobredito, passa a ser, na forma de abstração, um mecanismo da ambição
antrópica.
Giovanna
Spineli de Paiva – Noturno (1º ano)
Nenhum comentário:
Postar um comentário