Há muitos anos, as ciências humanas, principalmente as sociais, vêm
sendo desvalorizadas, quer seja no dia a dia e no senso comum, quer seja em
seus âmbitos de atuação. Corriqueiramente, elas são vistas como inúteis ou
improdutivas, e, em suas próprias áreas de especialidade, há descrédito
daqueles que as pesquisam. Nos tempos atuais, entretanto, essa desvalorização
parece estar se espalhando para as chamadas “hard sciences”, ou seja, aquelas
ciências que são lidas como mais objetivas, diretas e comprováveis: a grande
maioria das exatas e biológicas.
Já faz algum tempo, os negacionistas científicos vêm se tornando
mais comuns, seja com relação ao aquecimento global ou mesmo a forma do planeta
Terra. Essa tendência preocupante acha os mais diversos meios de se alastrar e,
agora, com a crise do Covid-19, ela se torna extremamente popular. Há diversas
teorias obscurantistas quanto à “verdade” sobre a pandemia que atravessamos,
mas é interessante observar um padrão comum: a noção de que a mídia manipularia
as informações sobre o novo coronavírus com o intuito de prejudicar um líder
político; tal teoria tem força principalmente nos Estados Unidos, sendo que o próprio
Donald Trump disse que a doença é um “embuste Democrata” para prejudica-lo em
ano de eleição, e no Brasil, onde os mais investidos apoiadores de Jair Bolsonaro
estão convencidos de que tudo se trata de uma farsa para prejudicar os supostos
avanços econômicos de sua gestão.
No caso estadunidense, apesar do país registrar o maior número de
casos no mundo todo e um crescimento preocupante das mortes por Covid-19, já
ocorrem manifestações pedindo o fim do isolamento social e a reabertura da
economia, o que começa a se repetir no Brasil, ignorando as recomendações de epidemiologistas
e da OMS. Trata-se de um momento delicado pois, por se tratar de uma nova doença,
as informações que cientistas possuem sobre o vírus são escassas, e as
respostas que eles entregam não são definitivas. Assim, se torna muito mais
fácil recorrer ao senso comum e às teorias da conspiração, que entregam
respostas prontas e simples.
É importante, entretanto, observar que o questionamento e a dúvida
são parte indispensável do pensamento científico, e que, no último século, a própria
forma de fazer ciência, até então moderna, cartesiana, vem sido questionada e
criticada. A diferença entre críticas válidas e tendências obscurantistas parte
de como são realizadas; mesmo para as dúvidas, correções e novas hipóteses, a
presença de um método, comprovável e lógico, é imprescindível. Em suma, a
ciência é corretamente questionada por mais ciência, construindo um
conhecimento em constante evolução.
Por fim, é importante perceber que, se o conhecimento científico é
tão pouco compreendido, isso se deve, em parte, a falta de acessibilidade
relacionada a ele. Em uma sociedade na qual a ciência fosse discutida de forma
ampla e realmente compreendida, a maior preocupação nesse momento seria a crise
pela qual passamos, e não aqueles que insistem em fechar os olhos para
convencerem a si mesmos de que tudo está bem.
Sofia Malveis Ricci
Direito - 1º ano (noturno)
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