Observa-se,
hodiernamente, um cenário desafiador em âmbito global: com o infeliz agravamento
da situação envolvendo o vírus SARS-CoV-2, fez emergir duas problemáticas,
sendo, tanto reflexões acerca da extensão do direito de confrontar a ciência em
tempos tão delicados, bem como, as consequências da adoção desta postura para a solução
da questão. Perante essa conjuntura, proponho a realizar minhas observações com
base em um artigo publicado pelo filosofo Edward Feser, nomeadamente, “Blinded
by Scientism”, defendo, portanto, o direito de questionamento do cientificismo,
termo que define a corrupção que tem sofrido a ciência. Posteriormente faço ressalvas
em relação a esse posicionamento, de modo a tentar contornar seus possíveis riscos
para com a situação envolvendo a pandemia.
O
frade Guilherme de Ockham foi a raiz do empirismo, corrente filosófica que mais
tarde seria epicentro das revoluções cientificas dos séculos XVII e XVIII, e
que hoje em dia resulta no cientificismo. O cientificismo é uma concepção filosófica
de ordem positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as
outras formas de compreensão da realidade, e que todo conhecimento verdadeiro
só pode ser expresso pelo conhecimento cientifico. Esse pressuposto, tira o monopólio
do conhecimento das mãos dos antigos clérigos e passa para os cientistas acadêmicos,
toda via, um princípio continua, a impossibilidade de questionamento. Isso
acontece, pois, os conhecimentos científicos “imediatos” – por exemplo, os
gerados durante a pandemia, que necessitam de urgência – são concebidos a
partir da aceitação pela maioria da comunidade cientifica, mesmo que existam hipóteses
e teses de outros cientistas que conflitam com aquelas aceitas em sentido prévio
pela maioria, fato que pode gerar situações preocupantes. Concomitantemente, as
pertinentes críticas de Edward Feser em relação a supremacia do cientificismo
se tornam essenciais.
”Apesar da pose de racionalidade de seus adeptos, o cientificismo tem um problema sério: ele é auto-refutante ou trivial. Tome o primeiro aspecto desse dilema. A afirmação de que o cientificismo é verdadeiro não é em si uma afirmação científica, não é algo que possa ser estabelecido utilizando métodos científicos. De fato, até mesmo que a ciência seja uma forma racional de investigação (e ainda menos a única forma racional de investigação) não é algo que possa ser estabelecido cientificamente. Pois a própria investigação científica se apoia em várias suposições filosóficas: que existe um mundo objetivo externo às mentes dos cientistas; que este mundo é governado por regularidades causais; que o intelecto humano pode descobrir e descrever com precisão essas regularidades; e assim por diante. Como a ciência pressupõe essas coisas, ela não pode tentar justificá-las sem andar em círculos. E se ela não pode sequer estabelecer que é uma forma confiável de investigação, ela dificilmente pode estabelecer que é a única forma confiável”
Fica
evidente, nesse ínterim, a inconsistência do cientificismo, tal questão fica
ainda mais clara ao se constatar as recentes transformações até mesmo nas bases
metafisicas dessa corrente. As regularidades causais e o determinismo do mundo
são questionados e substituídos pela aleatoriedade e acaso físico, conforme
visto em argumentações pelo filosofo Edgar Morin e no filme “Ponto de mutação”
de Capra, argumentações, estas, com alto teor de suposições filosóficas que
podem novamente sofrer transformações. Nessa perspectiva, não há justificativa que
conduza a uma revogação do direito de questionamento em relação a ciência
durante a pandemia envolvendo o Covid-19, uma vez que ela apresenta falhas em
sua própria essência. Embora capaz de construir conhecimentos verdadeiros, o direito
de contestar é assegurado – afirmadas pelo próprio Descartes em “O discurso do método”.
No
entanto, tal direito de confrontar a ciência não deve transgredir preceitos
morais e éticos, é necessário que se siga o ordenamento dos direitos e que não viole
com os já previstos, nomeadamente, a vida e outros defendidos pelo jusnaturalismo.
As recentes manifestações realizadas no contexto do Covid-19 colocam em cheque esses
direitos fundamentais, arriscando a vida de terceiros, por esse motivo são
consideradas imprudentes e esse processo de questionamento cientifico é tolo,
tendo maneiras mais humanista de fazê-lo. Simultaneamente, da mesma maneira que
não se deve colocar o direito de questionamento em grau superior a vida, é
arriscado também conceber pedaços da liberdade para um agente político, pois
sob falsos pretextos nobres de conter a epidemia, ditadores escalam degraus em seus objetivos autoritários.
Otávio Eloy de Oliveira - 1º ano Direito - Noturno
1) https://www.thepublicdiscourse.com/2010/03/1174/
2) https://www.thepublicdiscourse.com/2010/03/1184/
1) https://www.thepublicdiscourse.com/2010/03/1174/
2) https://www.thepublicdiscourse.com/2010/03/1184/
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