Segunda
Feira, 20 de abril de 2020
Boa
parte do mundo está vivendo em um contexto retratado apenas nos filmes
pessimistas sobre o futuro da humanidade. No estado mais populoso do Brasil,
São Paulo, o comércio, restaurantes, escolas e universidades estão fechados, funcionam
apenas os serviços considerados essenciais. O governador do estado, João Doria,
decretou quarentena até o dia 10 de maio, no entanto, é provável que haja prorrogação
dessa data. Muitas pessoas estão em casa, trabalhando e estudando pela
internet. Os que estão pelas ruas, usam máscaras e passam álcool em gel nas mãos
com frequência. Familiares, amigos e colegas estão separados, fazendo chamadas
de vídeo para tentar matar as saudades. Tudo isso para evitar a contaminação
pelo vírus SARS-CoV-2, causador da pandemia do coronavírus (COVID-19).
Nesse
cenário de incerteza e angústia, com mais de dois milhões de casos de
coronavírus confirmados no mundo e quase quarenta mil no Brasil[1], chama a atenção a insistência
de discursos anticientíficos que negam a gravidade e até mesmo a existência da
pandemia. Assim, em um momento no qual a ciência e os profissionais desse ramo
deveriam ser valorizados, crescem manifestações contrárias às medidas de
controle da contaminação. O que impressiona, no entanto, é a forma como esse
movimento anti-isolamento ganha proporções assustadoras, afinal, até mesmo o
presidente do Brasil, figura que deveria assegurar a vida e o bem-estar de
todos, é adepto ao negacionismo.
24 de março de 2020.
São os primeiros dias do isolamento social em São Paulo. Em pronunciamento
oficial, o presidente chama a pandemia que interrompeu eventos importantes no
mundo inteiro e já fez milhares de vítimas de “gripezinha”. Além disso,
Bolsonaro também critica governadores e diz que a população deve voltar à
normalidade. 16 de abril de 2020.
Devido a conflitos pessoais, que incluem divergências na forma de enfrentar a
crise do coronavírus, o Ministro da Saúde é demitido pelo presidente brasileiro.
Sim, em meio a um problema mundial de saúde, o ministro é demitido. 19 de abril de 2020. Indivíduos
realizam manifestações contra as medidas de quarentena e em apoio ao presidente.
Ademais, muitos levam cartazes pedindo a intervenção militar e a volta do AI-5.
Contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde, Bolsonaro apoia
a aglomeração em suas redes sociais e se junta aos manifestantes. Existe algo
que poderia explicar o apoio massivo a um governante tão irresponsável?
Ao
discutir sobre as bases epistemológicas da ciência moderna, o filósofo Francis
Bacon define o conceito de ídolos, que são falsas percepções do mundo. Para
ele, essas falsas percepções afastavam os seres humanos do conhecimento promovido
pela ciência. Segundo Bacon, vários elementos do cotidiano podem ser
configurados como ídolos, como nossas relações pessoais, os nossos sentimentos
e as crenças individuais. No Brasil do ano de 2020, personalidades como a do
Presidente Jair Bolsonaro são idealizadas e, com isso, são capazes de
influenciar fortemente os indivíduos. Dessa forma, em meio a uma pandemia, seus
fiéis seguidores são capazes de ir contra as recomendações de médicos do mundo
inteiro, aglomerando-se para mostrar seu apoio ao “mito” Bolsonaro e ao negacionismo
científico típico de seu governo.
Tempos
obscuros são esses que nos rondam. Pandemia. Cientistas e médicos são
questionados. Quarentena. Presidente da República não prioriza a saúde dos
brasileiros. Brasileiros, muitas vezes, não priorizam a saúde dos brasileiros.
Ministro da Saúde é demitido. Manifestação pede o fim do isolamento social.
Indivíduos pedem o retorno da Ditadura Militar. Segunda Feira, 20 de abril de
2020.
Júlia Scarpinati - 1º ano Direito- Matutino
[1] Dados do dia 20/04/2020. Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/20/casos-de-coronavirus-e-numero-de-mortes-no-brasil-em-20-de-abril.ghtml
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