“Mas
quem ia carregar uma nota fiscal?”
A
situação é inusitada para a personagem Armandinho, afinal, para
ele, carregar uma nota fiscal de uma bicicleta nunca foi necessário,
pois nunca duvidaram de sua palavra. No entanto, para Camilo, a
situação é rotineira devido ao racismo que sofre todos os dias.
O
racismo é resultado de uma falsa percepção da realidade que está
enraizada na população brasileira. Essa falsa percepção é
resultado da antecipação da mente, também chamada de preconceito,
de acordo com o filósofo Francis Bacon. O preconceito impediu que o
policial compreendesse que o questionamento feito às personagens é
infundamentado.
Essa
falsa percepção é chamada de ídolos por Bacon e são
classificados em quatro: Ídolos da tribo, da caverna, do foro e do
teatro. O racismo pode ser considerado resultado dos ídolos da
caverna, os quais vinculam-se às relações estabelecidas pelo homem
com o mundo à sua volta e dos ídolos do foro, que referem-se ao
indivíduo e à influência de suas associações. Ou seja, o racismo
está enraizado na sociedade desde muito antes de sequer nascermos e
é transmitido através de discursos em casa, na escola, no trabalho
criados a partir do senso comum.
Dessa
forma, é possível perceber que ainda hoje, com todo o acesso à
informação, os ídolos ainda influenciam à sociedade a agir de
forma irracional. Esse pensamento pode ser relacionado com a teoria
de René Descartes que buscava, por meio da razão, superar as
superstições e equívocos que a mente humana gerava. Para o
filósofo, a ciência deve ser voltada para o bem do homem e,
portanto, pensar a partir dela, evitaria que o racismo se
perpetuasse.
Assim,
compreender que ainda temos ídolos, que eles afetam nossa percepção
real do mundo e que atitudes como a do policial na tirinha são
recorrentes e completamente influenciadas por um preconceito que
ainda aflige a sociedade, é necessário para buscar sair da bolha em
que vivemos e superar esses ídolos.
Beatriz Falchi Corrêa
Direito diurno
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