Foram-nos expostas, em
sala de aula, duas tirinhas do personagem “Armandinho”, do cartunista Alexandre
Beck. A primeira continha uma situação, de início, ordinária. Duas crianças
andando de bicicleta na rua. No decorrer do cartum, surge um policial, que
questiona as personagens acerca da nota fiscal dos veículos com que brincavam.
A segunda discorre sobre uma situação em que as mesmas personagens encontram-se
cogitando apostar uma corrida até uma terceira personagem, mas há um policial
atrás desta última. Contudo, uma das crianças diz que é perigoso para ela
correr até a amiga. A partir daí inicio a minha análise.
Ao procurar uma lógica para a história das duas tirinhas,
nossa mente pode-nos fazer pensar que a requisição do policial e o medo de a
garota correr são acontecimentos desconexos, tratando-se de um exagero cômico
sem nenhum propósito transcendente a isto. Todavia, isto seria uma ideia pronta
criada pela mente, ou como diria Francis Bacon, uma antecipação da mente. Esta
reflexão é transparecida pelas reações de Armandinho, que questiona o policial
sobre qual a necessidade de andar com a nota fiscal de um bem qualquer e
pergunta à amiga o motivo pelo qual não pode correr. Dessa forma, a fala do
personagem aproxima-se de uma análise na qual se deixou a mente ser guiada por
ela mesma, sem fazer uso da experiência.
O
elemento da experiência se faz evidente na ação da outra personagem. Esta é uma
garotinha negra. E diante disto e do fato de ela estar imbuída nota fiscal,
pode-se inferir que ela já havia passado pela experiência de ser abordada pela
polícia e questionada acerca da posse legal de algum bem que portava. Bem como,
ela apresentou medo de correr perto de um policial, o que indica que já passou
por uma experiência de repressão ao fazê-lo. Logo, a garota apenas chegou a
conclusão de que estaria mais bem protegida caso portasse o documento fiscal e
de que seria mais prudente não correr a partir da observação de uma experiência
vivida. Esta mesma forma de se chegar a um conhecimento é defendida por Francis
Bacon, só se chega a uma verdadeira interpretação da realidade a partir da
observação de uma experiência e uma racionalização da experiência.
Julgo
que a partir do método cartesiano, proposto por Descartes, seria mais difícil
para a garotinha chegar a conclusão das decisões que tomou. Visto que este
método se baseia apenas na mente e na dúvida. Isto é exemplificado pelos
questionamentos de Armandinho, uma vez que ele não conseguiu compreender as razões
da amiga agir de maneira diferente da dele através apenas do raciocínio lógico
que possuía.
Enfim,
concluo que a experiência auxilia mais na buscar do conhecimento que o
raciocínio puramente. Ao confrontar estas tirinhas, que tratam da dura
realidade da população negra jovem na sociedade brasileira, permite-se chegar a
ideia de como, por mais que se esforce, não há como saber realmente sobre algo
sem observar, ou no caso da tira, sofrer, o efeito de um fenômeno na prática. O
raciocínio nos permite projetar e criar expectativas sobre algo, porém jamais
nos permitirá conhecer a realidade das coisas.
Luiz Felipe de Aragão Passos - Direito Matutino.
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