Desde o início da colonização
portuguesa no Brasil, os europeus consideraram que o trabalho escravo era a
melhor oportunidade para garantir o lucro na venda de matéria-prima retirada da
terra explorada, além do ganho com o tráfico de pessoas africanas. A partir
desse fato, enraizou-se na cultura brasileira a ideia de que os negros
africanos e seus descendentes estão estáticos na base da pirâmide
socioeconômica, posto que possuem uma marca histórica relacionando a ausência
de remuneração enquanto trabalhavam compulsoriamente, somada a dificuldade de
conseguirem empregos após a proibição de tais esforços impostos. Por
conseguinte, causa-se uma pobreza entre a população negra brasileira, sugerindo
que o meio rápido de conseguir dinheiro seria através do roubo e furto. Esses delitos
têm estereótipos reafirmados todos os dias pela sociedade brasileira: homens e mulheres afrodescendentes. E é essa
afirmação que as tirinhas de Alexandre Beck buscam ilustrar.
A contar o período escravagista,
os negros desempenhavam resistência contra essa forma compulsória de serviço a
fim de combater o racismo e a desigualdade social. A partir dos anos 60, os movimentos
sociais adquiriram a sustentação e movimentação popular e tomaram proporções
nunca antes alcançadas por outras mobilizações, e assim, nomes como Rosa Parks,
Martin Luther King e Abdias Nascimento tornaram-se um dos maiores ícones
representativos desse afronte à sociedade preconceituoso que ainda tem forte
atuação em pleno século 21, já que diariamente há divulgação de notícias referentes
a crimes causados pela discriminação racial.
Os questionamentos envolvidos
na luta de líderes de movimentos negros mostram que, assim como René Descartes
promovia em sua obra O Discurso do Método, 1637, no momento que determinados
ideais de uma sociedade, como afirmações de que o fator cor da pele definiam o caráter, a situação econômica
e a atitude das pessoas, as dúvidas a respeito desses dizeres levantaram
questionamentos de porque tal grupo é alvo de julgamentos pejorativos, e os
brancos eram vistos como modelos de ótima conduta de ser humano. Dessa maneira, esse incômodo desperta
no povo a indignação e vontade de dialogar a respeito desse assunto, e com
isso, projetos de impactos em busca de igualdade racial são colocados em pauta
por governos locais até alcançarem a ordem legislativa, resultando na criação de
leis punitivas a quem praticasse tais crimes.
Logo, retomando as duas ilustrações
de Beck, elas expõem acontecimentos recorrentes nas presentes sociedades, visto
que uma charge explicita o fato de que se o negro corre, os policiais e as
pessoas na cena irão concluir que se trata de um ladrão, já se o branco está correndo, é
apenas um ser com pressa. Além disso, quando a segunda charge exibe que o negro
precisa provar que ele comprou algo ao andar com a nota fiscal no bolso, e o
branco não, há o entendimento de que o negro é pobre e não tem condições
econômicos para possuir uma bicicleta, e por isso, o meio para adquiri-la seria
apenas por atos criminosos. E nesse quesito também pode-se comparar o que
Francis Bacon defende sobre os ídolos (distrações na vida do ser humano que
evitam com que ele adquira um conhecimento verdadeiro), sendo que nesse caso, o
ídolo do foro (falsas percepções do mundo através das relações sociais) reflete
um costume de culpar e caracterizar criminosos mediante julgamentos de experiências
de vidas subjetivas e diferentes, inviabilizando o real conhecimento da
situação.
Mesmo com a manifestação de
resistência dos seres humanos escravizados e posteriores movimentos sociais de
elevada repercussão, até os dias atuais o racismo é tratado como um problema
comprovado pela razão humana, mas que devido a experiência particular de cada
indivíduo, predomina-se o costume de duvidar de uma classe historicamente importunada
por julgamentos prévios da sociedade, do governo e da polícia.
Sarah Fernandes de Castro – Direito noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário