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terça-feira, 26 de março de 2019

Racismo: o intelecto desamparado

"Muito grande deve ser a preocupação para que o intelecto se mantenha íntegro e puro."
Francis Bacon, aforismo LVIII

A decorrente análise sociológica do racismo será feita tomando como base os dizeres de René Descartes e Francis Bacon nas obras 'O Discurso do Método' e 'Novum Organum', dos respectivos pensadores.
  

  "Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam, quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar."
René Descartes
"Os sentidos (...) são algo débil e enganador."
Francis Bacon, aforismo L

Através dessa sentença, René Descartes e Francis Bacon - ilustres filósofos - demonstram de maneira certeira sua desconfiança acerca daquilo que provém dos sentidos humanos. Os estudiosos abordam tais vieses do conhecimento como incompletos e até mesmo falhos. Nessa linha de raciocínio, sabido que o preconceito em relação ao negro é algo concomitante à história étnica do Brasil, faz-se entender que o racismo é um desdobramento do intelecto amparado apenas pelas habilidades sensoriais humanas, as quais sem o filtro da razão, proposto por Descartes, nos levam a conhecimentos errôneos tal qual a noção da divergência entre as pessoas pautada na coloração de suas peles. 

"O intelecto humano, por sua natureza, tende ao abstrato, e aquilo que flui, permanente lhe parece."
Francis Bacon, aforismo LI
"Aprendi a não acreditar com demasiada convicção em nada do que me havia sido inculcado só pelo exemplo e pelo hábito"
René Descartes

Nessa citação baconiana, podemos tratar o pensamento racista como uma abstração humana criada em prol de um contexto específico. Se considerarmos o sistema escravocrata vigente no Período Colonial brasileiro como o estopim das desigualdades raciais, concluímos ser essa a fonte da abstração preconceituosa que perdura até hoje. Em somatório a isso, em conformidade à afirmação do pensador acima apontado, entende-se (com infelicidade) que a fluidez, isto é, a realização duradoura e naturalizada da escravidão brasileira tornou a suposta inferioridade dos negros uma noção permanente e que vem ultrapassando a mentalidade de inúmeras gerações da nação. O hábito e o exemplo, portanto, fortemente inculcaram o desrespeito contra a pele preta na sociedade brasileira.




Feitas as devidas análises acerca do racismo como um desamparo do intelecto humano e fruto de escassa racionalidade, torna-se viável a interpretação das tiras satíricas apresentadas aos alunos em sala de aula. Ambas as obras estudadas abordam o racismo na atualidade e, principalmente, seu desdobramento nas relações sociais. Deparamo-nos com formas de tratamento discrepantes quando o alvo em questão é negro. Inconscientemente ou não, houve pré-julgamento da autoridade ao dirigir-se às crianças: a desconfiança acerca da legalidade dos atos e posses das personagens negras é ausente quando se trata das personagens brancas ou, até mesmo, amarelas. Isso demonstra claramente a herança histórica envolvendo as etnias constituintes do Brasil. Equivocadamente, infere-se ainda hoje que a cor da pele designa caráter até que se prove o contrário.

Encerro minha postagem com um pedido breve, mas detentor de máxima urgência: igualdade racial!

"Procure, enfim, eliminar, com serenidade e paciência, os hábitos pervertidos já profundamente arraigados na mente. Aí então, tendo começado o pleno domínio de si mesmo, procure fazer uso de seu próprio juízo."
Francis Bacon, prefácio do autor

Marco Alexandre Pacheco da Fonseca Filho
Direito Diurno, UNESP Franca - Turma XXXVI





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