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domingo, 14 de agosto de 2011

Um burguês barroco.

Até a baixa Idade média, os âmbitos social, político e religioso eram bem definidos com classes e pessoas pré determinadas para ocupar tais postos.
Somente certas castas participavam ativamente da política e o social dividido em três estamentos mantinha - se indiscutível através da legitimação religiosa. O homem era obediente à uma crença cuja finalidade era ressaltar nada além da grandiosidade divina. Prova disso é o sentimento introspectivo e de pequenez quando se entra em uma igreja medieval.

O burguês, portanto, é uma pessoa atormentada, barroca, que obteve o poder material mas que não obteve o consentimento da Igreja. É uma pessoa dividida, que a todo momento se indaga: devo seguir a Deus ou ao dinheiro? Moralmente a burguesia afastara - se da Igreja. E para esta, o burguês era uma pedra no sapato que jamais conseguiu engolir.

Assim, a lógica protestante tinha o terreno fértil para germinar.O burguês jamais abriria mão de seus juros, ao mesmo tempo em que se via moralmente indigno perante a ética católica. Surge uma ética protestante regada de axiomas dialéticamente reversos aos católicos. A ética econômica não se infiltrou na ética protestante, ela germinou junto, como ideia central, justamente porque foi criada sob medida ou adaptou - se à certa realidade de classe. Era como se a religião agora alcançasse o patamar horizontal legitimando o burguês.

Para Weber então, o alheamento das coisas mundanas, típico da moralidade católica, já não impedia o burguês em seu empreendimento material.

Aplicando a observação de Weber ao Brasil, é bem comum ouvir no sudeste que as pessoas no nordeste são preguiçosas ou que não têm a mesma dinamicidade característica da vida no sudeste e sul brasileiros.Claro, muitas são as diferenças a começar pela linguagem e por extensão, as religiosas. O nordeste brasileiro possui poucos protestantes, uma região, portanto, profundamente marcada pelo tradicionalismo. Não querendo dizer que por serem de maioria católica, eles estejam optando pela vida tão simples a que vivem e que sabemos poucas características. O que há, diferentemente do que há no sudeste, é uma aceitação de suas condições, as quais concluo, influenciada pelo tradicionalismo religioso da região.

Desespero, ansiedade ou tentativa de manusear o tempo, características típicas das regiões metropolitanas brasileiras não se apresentam em outras, como exemplificado na música do cantor Fagner, Último pau de arara:

''(...)Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara
Enquanto a minha vaquinha
Tiver o couro e o osso
E puder com o chocoalho
Pendurado no pescoço
Vou ficando por aqui
Que Deus do céu me ajude (...)''

Assim, concluo, classes sociais ou nichos continuam a existir, identificados como um mesmo grupo por terem características próximas ou comuns. Contudo, nunca deve ser desconsiderada, principalmente na investigação sociológica, a carga valorativa, muito mais por esta nunca ser a mesma e por constar em diferentes culturas.

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