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domingo, 14 de agosto de 2011

O PROGRESSO CRISTÃO


Segunda a doutrina marxista a sociedade é uma mera refém das forças de produção e o homem age em conformidade, unicamente, com os preceitos do capitalismo e do consumo, se comportando como um mero fantoche dessas forças onipotentes. Assim, todas as demais relações, como as relações morais, religiosas, culturais e psicológicas são deixadas de lado e nada influenciam no comportamento social, assim como na condução da vida particular de cada individuo. Essa doutrina sempre atraiu e continua atraindo a atenção e a cega confiança de grande parte da população letrada e das elites intelectuais dos quatro cantos do mundo.

Ignora-se, dessa forma, que o capitalismo nunca foi uma cultura ou um modo de vida, assim como jamais passou por cima de todos os demais fatores que formam a identidade social e individual das comunidades humanas e também jamais rebaixo a existência das sociedades em entidades calcadas única e exclusivamente nas relações de consumo.No capitalismo o único arbitro é o consumidor, ele é o centro das atenções da produção, sendo ele que decide quais os produtos que irão prevalecer e quais são aqueles que irão sumir do mercado, logo é um sistema voltado para a satisfação do consumidor. Diante de tais fatos, aliados aos postulados da Escola Austríaca de Economia que refutam cabalmente a teoria de exploração do trabalho bem como provam a impossibilidade de implantação do socialismo, é impossível negar que toda a construção teórica apresentada em “O Capital” foi simplesmente erigida no ar. O capitalismo, então, não constitui nenhuma cultura, apenas molda-se a diferentes tradições e religiões, assim se o capitalismo, ao contrario, tentar destruir e transfigurar os traços tradicionais de uma sociedade é ele que cai impotente e se autodestrói. Podemos dizer, portanto, que os “grandes” estudiosos marxistas György Lukács e Antonio Gramsci estavam corretíssimos ao afirmar que o grande inimigo do socialismo não é o modo de produção capitalista e sim as identidades culturais e religiosas que o da sustentabilidade.

A palavra capitalismo há muito se banalizou, chegando ao ponto de todos afirmarem que sabem perfeitamente o seu significado e, portanto, dispensarem demais explicações sobre a sua real conotação. Atualmente essa palavra adquiriu tal teor pejorativo que chamar alguém de capitalista constituir uma ofensa incomensurável. O fato é que o capitalismo proporcionou uma qualidade de vida para a humanidade sem precedentes na história, podendo-se dizer que mesmo os indivíduos das classes mais baixas da sociedade possuem uma qualidade e expectativa de vida que dificilmente monarcas de outrora e a elite de outros sistemas econômicos jamais imaginaram possuir um dia. Também é notável o fato de que, através do capitalismo, o homem pôde superar as suas fragilidades naturais e, assim, alcançar a imunidade aos intemperismos da natureza. Os principais teóricos que tentaram explicar o capitalismo foram Karl Max, Marx Weber e Alain Peyrefitte, cada qual com sua concepção própria do objeto de estudo, porém notamos que este último possui considerações mais embasadas e concretas que os dois primeiros.

Marx se enganou, assim como sustentou Weber, ao afirmar que todas as ações sociais são frutos, única e exclusivamente, das forças produtivas, portanto a idéia de que a infra-estrutura determina a superestrutura confunde a causa com o resultado ao desconsiderar os preceitos morais judaico-cristãos. É certo que várias estruturas capitalistas já existiam em outros modos de produção e em outras sociedades não ocidentais, porém foi apenas no ocidente que ouve uma racionalização da produção, ao ponto de se aplicar o principio de poupar o máximo possível do lucro para, com isso, reinvesti-lo e multiplicá-lo. Weber atribui isso principalmente à ética protestante, além da separação dos meios de produção das residências familiares, pois o protestante, ao nascer predestinado, não sabe o seu futuro, e, assim, procura na Terra sinais da sua salvação, dessa maneira ele crê que o principal sinal é o progresso econômico. O protestante, portanto, vive uma vida mais contida, sempre em busca da prosperidade econômica.

Apesar do rigor técnico apresentado por Weber, bem como a sua inegável solidez cientifica, Alain Peyrefitte discorda que o capitalismo é advento atribuído unicamente ao protestantismo, mas sim ao cristianismo como um todo. O eminente sociólogo afirma que Weber esqueceu-se de analisar alguns pontos cruciais do desenvolvimento do cristianismo e do capitalismo. A pedra fundamental do capitalismo é a doutrina judaico-cristã. Tal doutrina afirma que todo o homem é feito à imagem e semelhança de Deus, os colocando em condição de igualdade entre si. Jesus Cristo, figura central do cristianismo, ao dizer para todo o homem amar ao próximo como a si mesmo, contribuiu para a fundação do principio da igualdade jurídica entre os cidadãos, o qual colaborou para a extinção do trabalho escravo e a ascensão do trabalho livre, força motriz do capitalismo. Podemos dizer, além disso, que o cristianismo é herdeiro da tradição racionalista greco-romana, tal fato contribuiu para a racionalização da produção ao ponto de atingir uma produtividade jamais alcançada.

Outro argumento assinalado por Peyrefitte, para defender que o capitalismo é um produto da ética cristã como um todo e não apenas da protestante, é a revolução produtiva ocorrida na Idade Média, fruto dos trabalhos de inovação em técnicas agrícolas e em organização do trabalho realizados pelos monges católicos, que viria a contribuir para o advento do capitalismo. O catolicismo, diferentemente do protestantismo, foi um herdeiro do modo de produção instalado no Império Romano, o que viria a prejudicar a expansão produtiva dos países católicos em relação aos países protestantes. Como fator fundamental do avanço protestante tem-se, também, o fato que os países protestantes conseguiram se livrar mais rapidamente das mãos controladoras do Estado sobre a economia, o que gerava atraso aos países católicos, e avanço aos países liberais e protestantes. Dessa maneira o catolicismo é fundador do capitalismo tanto quanto o protestantismo, porém este último possuiu uma maior facilidade para o desenvolvimento capitalista, como expresso acima. Contudo não podemos menosprezar a obra de Weber, pois ele foi responsável por desfazer o mito do determinismo econômico sobre todas as coisas, legado de extraordinário mérito.

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