"O homem é dominado pela produção de dinheiro, pela aquisição encarada como finalidade última da sua vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como meio de satisfazer suas necessidades materiais."
Na obra "Die Protestantische Ethik Und Der Geist Des Kapitalismus'' (A Ética Protestante E O Espírito Do Capitalismo), mais propriamente no segundo capítulo, ''Der Geist Des Kapitalismus'' (O Espírito do Capitalismo), Max Weber entende o regime capitalista como um embate cultural e convida seus leitores a analizar a história sub variadas ópticas, jamais satizfazendo-se com o materialismo histórico : '' No estudo de qualquer problema da história universal, um filho da moderna civilização européia sempre estará sujeito à indagação de qual a combinação de fatores a que se pode atribuir o fato de na Civilização Ocidental, e somente na Civilização Ocidental, haverem aparecido fenômenos culturais dotados (como queremos crer) de um desenvolvimento universal em seu valor e significado.O mesmo ocorre com a força mais significativa de nossa vida moderna : o Capitalismo.''.Para Weber, o capitalismo distingüe-se do ''impulso para o ganho'', uma vez que este sistema econômico encontrou a contribuição, na sua formação, de inúmeros outros fatores.Quanto à idéia de que o regime e a ''ânsia do lucro'' se confundem, ele é claro : ''A superação dessa noção ingênua de capitalismo pertence ao ensino do jardim de infância da História da cultura.O desejo de ganho ilimitado não se identifica nem um pouco com o capitalismo, e muito menos com o 'espírito' do capitalismo. O capitalismo pode até identificar-se com uma restrição, ou, pelo menos, com uma moderação racional desse impulso irracional. De qualquer forma, porém o capitalismo, na organização capitalista permanente e racional, equivale à procura do lucro sempre renovado, da 'rentabilidade'''.O autor defende que a racionalidade é elemento imprescindível para a existência e manutenção do capitalismo.Ele, todavia, não despreza o alicerce econômico do regime : ''A organização industrial racional, orientada para um mercado real, e não para oportunidades políticas ou especulativas de lucro, não é, entretanto, a única criação peculiar do capitalismo ocidental. A moderna organização racional da empresa capitalista não teria sido viável sem a presença de dois importantes fatores de seu desenvolvimento : a separação da empresa da economia doméstica, que hodiernamente domina por completo a vida econômica, e, associado de perto a este, a criação de uma contabilidade racional''.Ele também destaca as contribuições jurídicas e científicas (sobretudo das ciências da natureza) para o amadurescimento e perpetuação do capitalismo : ''A forma peculiar do moderno capitalismo ocidental foi, à primeira vista, fortemente influenciada pelo desenvolvimento das possibilidades técnicas. Sua racionalidade decorre atualmente de maneira direta da calculabilidade precisa de seus fatores técnicos mais importantes. Implica isso principalmente numa dependência da ciência ocidental, notadamente das ciências matemáticas e das experimentalmente exatas ciências da natureza. Entre os fatores de importância incontestável, encontram-se as estruturas racionais do direito e da administração. Isto porque o moderno capitalismo racional baseia-se, não só nos meios técnicos de produção, como num determinado sistema legal e numa administração orientada por regras formais''. Weber reconhece também a importância da racionalização do próprio ser humano.O espírito do capitalismo, sintetizado na citação introdutória, é também o resultado de uma ética própria e convencional ao sistema.O sociólogo acredita que esta ética tem sua origem no que denominou de ''protestantismo ascético''. Sob esta denominação ele incluiu algumas correntes protestantes, das quais trata com certa atenção. São elas : o Calvinismo (corrente na qual ela mais se detém), o Pietismo, o Metodismo e as Seitas Batistas. Ao mencionar cada corrente, o autor enfatiza os aspectos de tais doutrinas que ele considera responsáveis pela criação da ética capitalista.Com relação ao Calvinismo, ele nota : ''O Calvinismo foi a fé em torno da qual giraram os países capitalisticamente desenvolvidos - Países Baixos, Inglaterra e França - as grandes lutas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII. Por isso, para ele nos voltamos em primeiro lugar. Desapareceu o Pai Celestial do Novo Testamento tão humano e compreensivo, que se alegra com o arrependimento de um pecador como uma mulher com a moeda de prata perdida que encontrou. Seu lugar é ocupado por um ser transcendental, além do alcance do entendimento humano, que, em seus desígnios inteiramente imprevisíveis decidiu o destino de cada um e regulou os mínimos detalhes do cosmos na eternidade. A graça de Deus, uma vez que seus desígnios não podem mudar, é tão impossível ser perdida por aqueles a quem Ele a concedeu como é inatingível para aqueles aos quais Ele a negou''. A ética do capitalismo pode ser sintetizada nos seguintes axiomas de Benjamin Franklin : ''As mais insignificantes ações que afetem o crédito de um homem devem ser consideradas. O som de teu martelo às cinco da manhã, ou às oito da noite, ouvido por um credor o fará conceder-te seis meses a mais de crédito.Lembra-te de que o dinheiro é de natureza prolífica, procriativa. O dinheiro pode gerar dinheiro e seu produto pode gerar mais, e assim por diante.Guarda-te de pensar que tens tudo o que possuis e de viver de acordo com isto''. Outro aspecto desse embate cultural, para Weber, é a resistência que, por vezes, o capitalismo enfrenta ou entrentou : ''O homem não deseja 'por natureza' ganhar cada vez mais dinheiro, mas simplesmente viver como estava acostumado a viver, e ganhar o necessário para este fim. O capitalismo moderno, onde quer que tenha começado sua ação de incrementar a produtividade do trabalho humano através do incremento de sua intensidade, tem encontrado a infinitamente obstinada resistência deste traço orientador do trabalho pré-capitalista; e, ainda hoje, quanto mais atrasadas estejam (do ponto de vista do capitalismo) as forças de trabalho tanto mais têm de lidar com ela''. Por consegüinte, Max Weber concebe o capitalismo como um embate cultural : ''Entretanto, a origem e a história de tais idéias são muito mais complexas do que supõem os teóricos da 'superestrutura'".