Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber, destaca-se sua análise sobre as relações entre as ideias e práticas religiosas e os aspectos mais importantes da ordem social e econômica do mundo ocidental, nas várias etapas do seu desenvolvimento histórico.
Na perspectiva sociológica de Weber, a compreensão das causas que levaram à origem e ao desenvolvimento do capitalismo exigiam uma análise comparativa entre as várias sociedades do ocidente, berço do capitalismo, e outras civilizações, como as do oriente, onde ainda não havia surgido um capitalismo de fato. Procedendo dessa forma, Weber identificou a presença significativa de protestantes de várias seitas, entre os líderes do mundo dos negócios e proprietários do capital, assim como os mais altos níveis de qualificação profissional encontravam-se nas comunidades protestantes. A partir dessas constatações, foi possível sugerir a possibilidade da existência de algum tipo de afinidade entre certos valores presentes na época do surgimento do capitalismo moderno e a ética protestante. Max percebeu, então, que a doutrina protestante defendia aquilo que podemos definir como valores do capitalismo, evidente no trecho da obra: “a perda de tempo (...) é o primeiro e o principal de todos os pecados. (...) A perda de tempo, através da vida social, conversas ociosas, do luxo e mesmo do sono além do necessário para a saúde – seis, no máximo oito, horas por dia – é absolutamente dispensável do ponto de vista moral” p.112.
Uma vez investigada e identificada a influência que tais crenças religiosas exerceram na origem do espírito capitalista, a etapa seguinte consistiu na investigação dos elementos dessas mesmas crenças que atuaram na definição do espírito do capitalismo. Segundo Weber, esse “espírito” é constituído por uma ética peculiar, caracterizada pelo utilitarismo com forte conteúdo ético – evidente nas citações de Benjamin Franklin, que emprega a ideia da ética como a conduta adequada para a obtenção de créditos – na medida em que o aumento de capital é considerado um fim em si mesmo e, sobretudo, um dever de todo indivíduo, uma vez que o ócio, a preguiça, a perda de tempo e o desejo de ser pobre são condenados.
Com esse panorama, o espírito do capitalismo assume o caráter de uma regra de conduta de vida. O capitalismo se torna, então, aquilo que Durkheim denominou fato social, devido à sua exterioridade, coercitividade e generalidade: “Ela força o indivíduo (...) a se conformar com as regras de comportamento capitalistas. O fabricante que se opuser por longo tempo a essas normas será inevitavelmente eliminado do cenário econômico, tanto quanto um trabalhador que não possa ou não queira se adaptar às regras, que será jogado na rua, sem emprego”. p.22.
Esse espírito capitalista ganha tanta força, que até mesmo os valores tradicionais tão enraizados nas sociedades e instituições como religião, família, saúde e outros, que Weber denominou “tradicionalismo” tiveram de ceder. A religião, ao defender alguns dogmas referentes a um paraíso ou à forças não-humanas, fazia com que os trabalhadores não fossem tão eficientes durante suas atividades, uma vez que a vida no mundo era só uma passagem para algo melhor que estava por vir, sendo então um grande entrave para o capitalismo.
No entanto, a ideia de racionalização nos âmbitos científico e jurídico e consequentemente, na racionalização do homem com um todo, foi algo fundamental para que o modo de produção capitalista se desenvolvesse. Esse tradicionalismo que era antes um impecílio para o desenvolvimento do capitalismo, não só se submeteu, como também coloborou para o advento do novo sistema econômico, uma vez que as religiões protestantes passaram a pregar o acúmulo e a multiplicação monetária como forma de salvação.
Para Weber, portanto, esse “espírito capitalista” identificado nas seitas protestantes, cujo elemento básico era o profundo isolamento espiritual do indivíduo em relação ao seu Deus, significava, na prática, a racionalização do mundo e a eliminação do pensamento mágico como meio de salvação.
Atualmente, depois desse impulso inicial, o capitalismo libertou-se do abrigo de um espírito religioso, e a busca de riquezas passou a associar-se a “paixões puramente mundanas”. O capitalismo moderno não necessita mais do suporte religioso sobre a vida econômica, pois a ambição por bens materiais supriu as crenças religiosas.
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